domingo, 22 de dezembro de 2013

Teresina quase no Peru


 
(Edmar Oliveira)
 
Andei por aí, e depois até conto por aqui. O meu destino era o “umbigo do mundo”. Volto a ele. Mas desembarquei em Lima sem conhecê-la. Surpresa. Adorei. Povo bom e muito igual a nós, com um problema: todos tem a mesma cara do Inca velho e aí nos confunde. Fui compreendendo. O trânsito é de uma incompreensão sem sinais. Mas gostei. Taxi não tem taxímetro: discutimos a distância e o preço na hora. Vez por outra me dei bem, outras não, mas é do jogo. Gosto dessa desorganização. Entretanto, a gentileza de todos com a mesma cara era sempre a mesma. Bem perto do hotel, em Miraflores, quase a Ipanema ou Leblon limenho, um sítio arqueológico: Huaca Pucllana! Simplesmente fenomenal: uma pirâmide de adobe, argila pura, de muitos metros quadrados e muito alta. Andamos conduzidos por um guia mostrando tumbas e sarcófagos pré-incaicos. Tudo de argila. Os “tijolos” de adobes são erguidos feitos livros de uma biblioteca. Incrível são os três centímetros de distância entre os “livros”: anti-sismos! A pirâmide balança e choaqualha nos terremotos, mas não cai. Genial. Mais interessante ainda: antes era um morro de argila frequentado por motoqueiros. Bem perto daqui, em 1987, foi tombado e conservado no centro da capital peruana. Mas porque está ali a nos desafiar com o passado pré-inca de antes de Cristo? Se todo o monumento é de argila e se dissolveria em água?

Mistério limenho: lá o sol não aparece. As nuvens o encapsulam. Vindo dos Andes e com o ar frio do Pacífico mantém a capital peruana, que fica na mesma latitude de Salvador, sempre fresca no verão e fria no inverno. Mais ainda: não chove nunca! Por isso a pirâmide de argila ainda hoje está de pé! As ruas de Lima não têm bueiros por falta de água para escoar. Se bebe a água dos Andes, que escorre em córregos até o mar. Miraflores e outros bairros limenhos ficam numa falésia de argila, muito acima do nível do mar, esperando um maremoto. A cidade estremece com tremores vez em quando. A periferia tem casas sem teto: não chove e não tem sol. Adorei essa faceta. Fresco, sem sol e sem chuva.

Uma amiga não gostou da minha argumentação e admiração. Dizia que bom era sem chuva, mas com sol! Como gostam os cariocas.

Aí não me contive: sem chuva e com sol, essa cidade já existe: Teresina!

Boas Festas e Próximo Ano Novo


Por Gervásio
Se você deseja adquirir Terra do Fogo pela internet click:


1 verso

POVOADOS AGÔNICOS

As casas adormecidas

E as ruas solitárias e vazias

É noite nas cidades esquecidas

É inútil o nascer de novos dias


A vida lentamente vai embora

Sua fuga é estampada nos semblantes

Nada é esperado, nada vem de fora

Há tristeza no olhar dos habitantes


(Climério Ferreira)



É TEMPO
 
É tempo de assinar a Revestrés; de ler a poesia de Graça Vilhena; é tempo de Anderson Braga Horta e de Nicolas Beher; de crônicas de Cineas Santos e de Severino Francisco; de reler o livro de poesia do José Carlos Vieira; tempo de músicas novas do Clodo; tempo do bar do Mineiro; tempo de ir com Helô pros festejos de São Gonçalo em Regeneração; tempo de ouvir o disco de Celso Adolfo sobre Sagarana; tempo de gravar Pássaros no coração no novo disco do Túlio Borges; é tempo de ler Terra do Fogo do Edmar de Oliveira; tempo da poesia de Salgado Maranhão; tempo de fazer parceria com FernandaTakai e Marina Lima; é tempo de curtir Matias, Luisa e Julia; tempo de abraçar Débora e Daniela; telefonar pro Bê; ouvir Bené Fonteles; encontrar Guido Heleno; planejar publicação de um novo livro com Ruy Godinho ; é tempo de viabilizar a publicação do infantil-juvenil O Destino Azul das Estrelas;  é tempo de bater um papo com Assaí Campelo no Clube dos Diários; é tempo de ser parceiro do mirabô; e, principalmente, é tempo de se ter tempo.
 

(Climério Ferreira)

O Mágico de klöZ por Gervásio


Sergio Samba Sampaio de Chico Sales




Sérgio Sampaio passou pela música brasileira preso ao rabo de um cometa. Foi como um raio. Talvez uns imaginassem tê-lo visto. Outros nem lembram. Parece que não era o seu tempo e Sérgio vive num futuro para aparecer vez ou outra na passagem do cometa. Entre os acordes da Tropicália e um rock maluco beleza ouviu-se o barulho do bloco na rua, que não ganhou, mas é essa marcha-rancho que lembra o Festival da Canção de 1972. E ficou martelando na cabeça de todo mundo. Só que ele tinha uma paixão antiga aos sambas-canções de Orlando Silva, Sílvio Caldas e Nelson Gonçalves que talvez reacendeu quando esse Sampaio Teimoso “andava da Lapa a Copacabana a pé”. E é essa faceta que este trabalho pretende mostrar. Sérgio Samba Sampaio tenta fazer ouvir apenas os sambas que não foram percebidos na passagem do cometa. Chico Salles, um cordelista forrozeiro com um pé no samba, canta também esse estrangeiro do samba reconhecidamente carioca. Aqui, outros dois estrangeiros, Raimundo do Ceará e Baleiro do Maranhão, também emprestam uma ajuda luxuosa para a construção dessa homenagem. Mas é o legítimo sambista Zeca Pagodinho quem assina o canto desse Sérgio Samba Sampaio. E com respeito ao samba de Sérgio perdido na passagem do cometa, Henrique Cazes dedica seu talento a essa homenagem, traduzido no trabalho primoroso dos arranjos. O extraordinário José Milton ainda ajuda a lustrar a produção desse trabalho coletivo. Então não é por acaso que Sérgio lembra Cartola, Cavaquinho, Adelino. E nas letras ele transgredia o conformismo dos anos de chumbo de então para falar aqui no futuro em sambas que só agora podem ser mais bem compreendidos.
Não de todo. Sérgio não desceu do cometa, só está passando por aqui outra vez...

(Edmar Oliveira)





 Com arranjos de Henrique Cazes, que também divide a produção com José Milton, “Sergio Samba Sampaio”, este CD do paraibano, mas carioca de coração, Chico Salles revela uma faceta da vasta obra de Sérgio Sampaio e mostra sua paixão antiga pelos sambas-canções e suas letras bem humoradas, inteligentes e ainda atuais.

Com participações de luxo, como a do Zeca Baleiro, que já lançou o projeto O Balaio de Sampaio em 1998, agora divide os vocais com Chico no samba História do Boêmio, de Raimundo Fagner em “Cada Lugar na Sua Coisa” e o legítimo sambista Zeca Pagodinho em “Polícia, bandido, cachorro, dentista”, todas de autoria de Sérgio Sampaio, o álbum tem distribuição do selo ZecaPagodiscos.

“A ideia deste CD surgiu depois ouvir novamente, tempos depois, os LPS do Sergio Sampaio, motivado pelo amigo Edmar Oliveira”, conta Chico Salles. “Ter a participação destes três expoentes da nossa canção, foi enormemente gratificante e qualificador para o projeto, pela generosidade e sensibilidade dos três. Reler Sergio Sampaio é se atualizar com a picardia e irreverência brasileira. Nada é mais contemporâneo na nossa música popular”.

Chico Salles já lançou cinco discos, todos na ceara do forró, mas com pitadas de sambas: “Confissões” (2000), “Nordestino Carioca” (2002), “Forrozando” (2005), pelo qual foi indicado como melhor disco e melhor cantor na categoria regional ao Prêmio TIM de Música, hoje Prêmio da Música Brasileira, “Tá no Sangue e no Suor” (2007) e "O Bicho Pega" (2010).

Paraibano de Souza, Chico Salles chegou ao Rio de Janeiro nos anos 70. Forrozeiro, cantador e cordelista, membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel desde maio de 2007, onde ocupa a cadeira nº. 10, que originalmente pertencia a Catulo da Paixão Cearense, sempre circulou com desenvoltura pela cidade, incorporando a ginga do samba carioca à força da música da suas origens sertanejas. Nos anos 80, conheceu os redutos do samba carioca através de seu amigo trapalhão Mussum - com quem travou parcerias musicais e fundou o bloco Elas e Elas em 1985. Outras parcerias que surgiram naquela época - e perduram até hoje - foram com Noca da Portela, Roberto Serrão e Beto Moura.

Hoje, Chico Salles já tem uma carreira consolidada, circula entre as melhores rodas de samba e forró do Rio de Janeiro e participa de vários projetos. Além disso, ganhou concursos de melhor samba enredo em vários blocos da cidade, nos anos 90, como Simpatia é Quase Amor, Barbas, Elas e Elas, Banda da Barra e Vem Cá me Dá.

Com esta vivência, Chico mostra em “Sérgio Samba Sampaio” todo o seu cacife para tirar do baú músicas do compositor pouco conhecidas do público, que tem como referência na memória apenas seu hit “Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua”, de 1972, que ganhou o Festival Internacional da Canção ao ser apresentada no Maracanãzinho, naquele ano.

Mas a obra de Sérgio Sampaio é vasta e este projeto vem contribuir para recolocar seu nome de na ordem do dia. Ele integra uma galeria de "malditos" da MPB, que incluiria Melodia, Itamar, Torquato Neto, Macalé, Mautner e Arrigo. Hoje foi redescoberto num culto novíssimo e nada saudosista em torno do artista que, como o texto de Edmar Oliveira diz na abertura deste release, “passou pela música brasileira preso ao rabo de um cometa”.

Henrique Cazes ressalta o quanto Sampaio sabia fazer samba com qualidade e originalidade. “Muitos dos sambas do disco não foram gravados originalmente como sambas clássicos e agora ficaram mais valorizados com esse tipo de instrumentação (violões, cavaquinho, acordeom, muita percussão) e arranjo. Sérgio fazia samba como uma forma de transgressão, já que a ‘máquina’, a gravadora, o mercado, esperava que ele fosse pop. Ele fala disso na letra do Velho Bandido. Ele transgredia dentro da própria transgressão”, completa o músico e arranjador.

“Gravar Sérgio Sampaio hoje é de enorme importância”, opina José Milton, “pois ele foi fundamental pra música brasileira; deixou vários discos bons. Era um compositor talentoso, um poeta cru, explícito na veia”.


Chico Salles - Sérgio Samba Sampaio
Lançamento ZecaPagodiscos
Preço médio: R$ 25,00

MEU CHORO, MEU CHORINHO

MEU  CHORO MEU  CHORINHO
É  NA  LEVADA  DE  VIOLÃO, CAVACO,  E BANDOLIM 
MEU CANTO,  MEU  CANTINHO
É  NO TRINADO  SUTIL DE  PASSARINHO
 
(Lázaro José de Paula)

Salgado Maranhão


Balanço

Fecho o ano
abro o abraço
choro 
e comemoro
a dor
da imensa alegria de viver


 
         (Lelê Fernandes)

Centro Norte


Das coisas que só o Carlão Fazia

 
 
Com  arte e delicadeza,

das asperezas do aço,

Carlão extraía leveza...
 
(Cinéas Santos)
 
__________________________________
Carlos Martins, artista piauiense, mago da escultura em aço, falecido precocemente