domingo, 22 de julho de 2012

Cariocas


Edmar Oliveira

Os cariocas já foram retratados pela gaúcha Adriana Calcanhoto com perfeição. “Não gostam de dias nublados” chega a ser o contrário dos piauienses que sapecam um “ta bonito pra chover” quando as nuvens atrapalham o sol inclemente. Mas faltou referência a autoestima exagerada desse povo dourado. Estou aqui me referindo ao carioca do cartão postal, o que sai na metade do túnel Rebouças para Laranjeiras e nunca o atravessam para o subúrbio. 

Esses têm certeza que o “povo eleito” de Deus são eles. O recorte das praias num litoral azul turquesa que apertam seus habitantes ao pé da montanha cria um espaço habitável privilegiado. O morro Dois Irmãos e o Pão de Açúcar, abençoados pelo Corcovado, são parte de um relevo geográfico bonito por natureza, abençoado por Deus nos versos do poeta. Isso junto faz a alma carioca ser elevada ao nirvana da autoestima.  

Mas não sei o que acontece, os cariocas sempre elegeram os piores gestores de sua cidade. Nunca acertei um voto desde que me fixei aqui. E se você pensa que não pode piorar, sempre piora. Depois de uma eternidade de mandato dos maias de um César Imperador, apareceu um menino criado por César, que se intitula um gerente da empresa carioca sociedade anônima, protegido do governo estadual e federal. E o menino gosta de obrar para as construtoras, onde a prefeitura muda a fachada da empresa a cada dia, mas se recusa a zelar pela educação, saúde e assistência social, deixando sua função política na mão do mercado. Trágico alcaide que serve a elite, esquecendo os outros filhos de Deus.

Agora disputa sua reeleição com o próprio filho de César, um Rodriguinho qualquer amigado politicamente com a filha do nefasto casal Garotinho e Rosinha, que tanto mal fizeram ao Estado. Caminhamos para mais uma triste eleição. 

No meio do caminho apareceu o Freixo. Lançado personagem de cinema pelo Padilha, ousou enfrentar a milícia do subúrbio para aonde até o Cristo Redentor dá as costas, segundo a música do Chico. Já surgiram outros anticandidatos na cidade. Nunca tiveram sucesso. Ele bem que podia ser eleito se tocasse a autoestima dos alegres bacanas.  

Mas temo o circo armado pelo governo federal e estadual, que, para que a continuidade do seu projeto político seja mantida, se alia até com o inimigo, faça o carioca entender que sua autoestima esteja nessa aliança. Aí, sem chance...  




AONDE ESTÁS?


AONDE  ESTÁS  TU  E A TUA  FESTA

A  CHUVA  CAI  ATENDENDO  A  TI  E A  TUA TRISTEZA
QUEM  ATENDERA  A  MIM  COM  TANTA  PRESTEZA  ?
TALVEZ  UM  CÃO DE  ESTIMAÇÃO  QUE  NEM  POSSUO
OU COM  CERTEZA :   A  MAGNANIMA  MORTE
PORQUE  ESSE  É  SEU  OFÍCIO
PORQUE  VOCE  NÃO ATENDE  AOS  CHAMADOS  DO  MEU CORAÇÃO
NOS  LABIRINTOS  DESTAS  NOITES  LONGAS  E VAZIAS DESTA  ESTAÇÃO
QUANDO  É  MAIS  FEROZ  O   SEU  LAMENTO ?
PORQUE PERDI  AS  CHAVES  DO  MEU  DESTINO
NUM  BANHEIRO   PÚBLICO, NUM  BANCO  DE PRAÇA
OU  NA  CURVA  DA ESQUINA, 
E  ELAS NÃO  SERVEM  PRA   NENHUM  DESATINO
DE  PIVETES,  PUTAS.  TRAVESTIS,  MENDIGOS.;
SEJA O  DESTINO  GENTIL   
E  NÃO  ME  PREGUE  PEÇAS
E  ME LEVE PARA  AONDE  NO BRASIL
SE  ENCONTRAS  TU  E  TUA   FESTA            
___________________________________________________________
foto: Edmar

Comentários a respeito de Salieri

Leo Almeida

Somos medíocres. Essa é nossa medida e natureza: mediocridade. Do dedão do pé ao último neurônio somos, doa a quem doer, medíocres com fumos de genialidade. Somos do reino da vulgaridade, da banalidade, somos zero.
É duro ler tal afirmação, principalmente formulá-la, e pior ainda quando provém de outro medíocre. Mas é necessário fazê-la, é fundamental ser espelho: somos medíocres desde a raiz ancestral africana. Lucy, a pós-símia e pré-humana, aquele resto de osso e substância orgânica, já era medíocre e vã em sua savana arcaica. Vem de longe o tatear da vulgaridade em nossa espécie, e no entanto eis que cultivamos estátuas de heróis inatingíveis, bustos de geniais compositores, representações de titãs incomensuráveis, pegadas de fantasmas de películas. Somos mestres em cultuar as exceções, somos assim fazendeiros da raridade.

Outro dia, assistindo ao filme "Missão Marte", ouvi o seguinte diálogo:

- Apenas 3% de diferença entre o nosso DNA e o do macaco geraram Einstein, Mozart, Bach.

- Jack, o estripador...

e eu completaria: E mais 6 bilhões de formigas humanas.
A cultura nos cobra a genialidade que, por padrão, ocorrência histórica e estatística, não temos, nem teremos. Devemos aceitar essa realidade: somos medíocres, não por necessidade ou opção - que não somos tão estúpidos assim - mas por predisposição genética. Nossa natureza é a mediocridade. Hão de um dia descobrir o gene dessa nossa bagaceira metafísica, tenho fé.

A propósito da ideologia embutida em “Amadeus” (assista a peça, leia o livro e veja o filme), é-me doloroso, porém divertido, dizer que estamos mais para Salieri que para Mozart. Refiro-me aqui aos personagens, fantasmas fictícios, e não às figuras históricas que respiraram um dia sobre a face desta terra. Óbvio ululante? Nem tanto, considerando que nos esforçamos sempre em ser Mozart , e nesse esforço vão tentamos matar o Salieri que todos temos. É a nota 10 que se cobra do filho na escola; o primeiro lugar no concurso para violino; o destaque do ano na indústria de velas; o Nobel da paz; o Jabuti de poesia; a cadeira de imortal; o Pulitzer; o Oscar; o pódium; a pole position, o funcionário do mês no MacDonalds... Todos os joões-ninguém queremos ser o Airton Sena e o Pablo Picasso que nunca seremos. Isso não nos torna pior ou melhor, pelo contrário, nos iguala a todos, resgata nossa verdadeira natureza: o banal, o vulgar, o trivial. Somos feijão com arroz e assim morreremos todos, sem nunca termos sido caviar. Fatalismo? Nada, meus vermes leitores, apenas pura constatação histórica. Somos todos salieris pomposos, orgulhosos, senhores de porra nenhuma, pajeando a aberração, a mutação, a transcendência inerente ao gênio. A genialidade como paradigma de nosso trajeto pela vida é a forma mais cruel de tortura. O gênio será sempre a odiada e invejada exceção. Este sim, excrescência, fruto máximo do sarcasmo divino. Brincadeira trágica que os deuses tecem sobre nossas expectativas rasteiras e comezinhas.

Somos nada e nos cobramos tudo, só podemos esperar conflito, neurose, amargor, angústia. Este é o verdadeiro mal-estar da civilização. O ser humano vale pelos sentimentos que desperta, provoca, sente. Somos raiva, ciúme, inveja, ódio, mesquinhez. Mesmo quando Mozarts, Bachs ou Camões, somos rasteiros e ofídicos. Somos um pouco Salieri, Otelo, Ahab, a madrasta dos contos de fada, Sísifo, Lafcadio. A exceção sempre são os outros. Os poucos outros. Essa frase tem seu sentido mais profundo para a grande maioria dos bípedes desse planetinha sujo. Sempre em linha reta. 
Não estou aqui para questionar a obra de Antonio Salieri, não vem ao caso. Nem falo aqui do Salieri real, torno a declarar. Estou comentando a trágica personagem que sucumbe ante o gênio irresponsável e sifilítico da outra grande personagem, Mozart. Esta, o exemplo do que foge à regra. Porque não deixá-la à míngua? Porque não cultuarmos o ze-povinho? O jeca? O que realmente nos representa? Porque não? Não há que se tomar partido. Não se trata de uma disputa Brasil e Argentina. O que está em jogo é a supervalorização daquilo que em nossa trajetória pelo cosmo sempre foi e será exceção: o herói, o gênio, o super-homem. E por ser exceção, que tal abandoná-los e passarmos a nos guiar pela regra? 
A regra somos nós e nossas dívidas, nossos carnês de prestação, nossas falcatruas rotineiras, nossas vidazinhas ordeiras e pacatas, nossos domingos infaustos repletos de faustões. A regra é o pai bondoso e cristão, cumpridor de suas obrigações para com a Igreja, o Estado e a Família. Essa é nossa regra, sermos medíocres integrais: bíblia embaixo do braço, código do consumidor à cabeceira da cama, o autor mais vendido citado de cor, o compositor mais meloso assobiado no churrasco de domingo. Esse indivíduo somos nós. Vocês acham que somos aquele que escreve obras-primas? Compõe sinfonias? Ganha batalhas gigantescas? Descobre a cura do câncer? Não se iludam, voltem ao seu joguinho de gamão ou à sua coleção de chaveiros, é melhor contentar-se com o esquecimento.

Somos nós que linchamos assaltantes de ônibus, violamos crianças, assistimos novelas e falamos da vizinha que trai o marido. Sim, esse medíocre indivíduo que aposta na loteria, palita os dentes no meio da rua, coça o saco e cospe de lado ao xingar homossexuais e mulheres independentes somos nós, eu e você. Aquela outra que rói o esmalte carmim e tenciona abortar o feto que carrega, sou eu e é você também. De alguma irônica e trágica maneira, somos a massa sem rosto que transita nas grandes cidades do mundo. Isso sim é nosso destino e nossa cara: uma raça de pequenos homens, com grandes e minúsculos sentimentos que nos fazem marcar a ferro e fogo nossa presença sobre a superfície do planeta.

Grandes são nossos sonhos, isso sim é real. O resto é mídia, purpurina, folhetim barato distribuído gratuitamente como encarte nos jornais de bairro.



A IDEIA AZUL

Você se esconde em tons de azul
E fica assim um ser celestial
Que morava numa estrela nua
E hoje habita as notas da canção

Desorienta o norte do meu sul
Não observa as regras do normal
Em vez de andar você flutua

E desafia as leis do coração


(Climério Ferreira)

Escreva alguma coisa



Geraldo Borges

Escreva alguma coisa, se expresse, Diga o que sente ao vazio do papel. Aos pouco, uma palavra aqui, outra ali e você vai se soltando.

 Escrever é como se coçar, uma expressão corporal, é só começar e gostar. Você começa usando letras, sílabas, palavras, orações, períodos, parágrafos, e vai adiante.

Não deixe a censura interna tomar conta de você. Escreva ao seu bem querer, escreva o que bem quiser, no ritmo de sua inspiração, de sua respiração. Depois se quiser limpar o texto vá mais devagar. Mas cuidado na hora que estiver sacudindo a  bateia.Não exagere as escolhas.

Tome suas palavras como um delírio do qual você precisa se livrar Faça de conta que você está na frente de um psicanalista num divã, tentado desabafar, ou que está escrevendo para um  velho amigo, recordando as brincadeiras de menino.

 Lembre-se de que quando era criança gostava de ouvir histórias encantadas, invente  ou reinvente agora história recontadas. Escreva alguma coisa, qualquer bobagem, como criança que desenha garatujas. Uma casinha com uma árvore e o sol parecendo  o rosto de um menino risonho.

 Você gosta de conversar, por que não escreve?A fronteira entre as duas atividades  têm uma dimensão muito sutil, se você descobrir vai encontrar o maior achado, o seu talismã para abrir a porta da literatura.

 Primeiro você tem de ver que tudo é narrativa, que você virou personagem desde o momento que berrou na hora de nascer, foi batizado e ganhou um nome para começar a sua história. Aliás,  você virou personagem desde a hora de sua concepção.

 Daí para  frente vão começar os desafios e as peripécias. E mesmo que você não tenha talento para a invenção, é só observar, seu ambiente, sua família e os outros para  criar os círculos de seu inferno, e encontrar o seu demônio; de posse de seu demônio, de seu duplo, se você  tiver faculdade para escutá-lo,  considere-se pronto para escrever. Escreva alguma coisa, se expresse.

 Toda palavra tem ritmo e força e pode estar conectada com as profundezas mais submarinas do inconsciente, se você conseguir pescá-la pode estar certo que será um  escritor.

 Um  escritor é um caçador de palavras, com ela tece sua rede para pescar no labirinto do imponderável, rede esta que começa a ser tecida com os brinquedos da infância.Pois é pelos caminhos da infância que se inicia a vida de um escritor. Se ele não gostar da criança que sobrou em sua biografia, de nada vai adiantar; pois perdeu o fio da meada.

Interrogaram, um dia, Gladstone, sobre quantos discursos um homem podia fazer em uma semana. O grande parlamentar britânico respondeu. “ Se é um homem de alta capacidade, um só. Se é um medíocre, dois ou três. Se é um imbecil, uma dúzia.” Paul Veléry  fazia bastante conferencias. Um dia lhe perguntaram a receita  para tantos trabalhos sucessivos , respondeu malicioso: “Nada mais fácil do que preparar uma conferencia. Basta definir as palavras que  compõem o titulo dado. Pedem –nos para falar sobre o  “Sentimento do infinito em Pascal?” Muito bem. Primeira parte: o que é o sentimento? Segunda parte: que é o infinito? Terceira parte: quem é Pascal? Dez linhas de conclusão, brilhante se possível. E a conferencia está feita.

capado

sem título


o casulo virou

borboleta

no jardim

de minha alma

(João de Carvalho Fontes)
__________________________________________
e-mail do poeta João Carvalho: Prezado Edmar, Ao ler  a crônica do Leo Almeida, me veio à mente o poema abaixo,  que envio ao piauinauta para postagem, quando possível.

Neimar por Gervásio

A bola sumiu...

queixa urbana

 
o legado cinza dos gradeados
cumula-se nos olhos e nos nervos

árvores de cimento e ferro
jardins de silêncio e medo

balé de buzinas e descargas
na pele das ruas sem recreio

meu vizinho não sei como se chama
o futuro engoliu meu pé de manga

com a alma nublada de olheiras
armo a rede à sombra da pressa e da canseira

joão batista de carvalho
União-PI

OS HISTÓRICOS DESMANDOS E DESCUIDOS NO ESÍRITO SANTO

Recebi por e-mail do professor Zuza de São Paulo o artigo abaixo. Zuza tem um livro sobre o assunto. E agora que vai ter eleições ele retoma a questão aqui no Piauinauta. Deixemos ele falar no e-mail:

"São Paulo, 18 de julho de 2012
Prezado Edmar,

Sou apreciador das suas comunicações, sobretudo daquelas que tratam do Piauí e assim aproveito a oportunidade e mandadar para te um comentário que fiz  a respeito de um pequeno ponto  do território dpiauiense. Trata-se do Povoado do Espirito Santo que tornou-se autonomo em 1996 e perdeu o seu nome originário e ganhou o esquisito apelido de Ribeira do Piauí. Como sou de lá e moro em São Paulo, mas quero  o retorno do seu nome originário, é uma quetão de respeito a história e as pessoas daquele território do Divino.
Meu Edmar você precisa retornar a São Paulo e tomar umas cervas na  Praça Benedito Calixto, apareça por cá.



OS HISTÓRICOS DESMANDOS E DESCUIDOS  NO ESÍRITO SANTO
Prof. Dr. José Vieira Camelo Filho-Zuza

Estes problemas com a coisa pública são marcantes no dia a dia dos brasileiros e no  Espírito Santo (agora com o apelido de Ribeira),  não é diferente. Os descuidos são históricos e iniciaram com o processo de criação do município em 1996, quando trocaram o  nome Espírito Santo(povoado fundado no final da década de 1940 e início dos anos de 1950) pelo abominável apelido de Ribeira do Piauí. Tal nome não fazia sentido  porque ribeira é uma localidade situada no vale de um rio. No entanto, o mais grave é que este ato irresponsável ocorreu porque o prefeito da época de sua autonomia,  pretendia levar a sede do  município para o povoado da Barriguda  e não se justificava ser chamado de Espírito Santo, por isso, Ribeira era mais adequado, caso este objetivo se consolidasse voltaria o seu nome anterior. 
Desta forma, a falta de cuidado e  de responsabilidade com  a coisa pública no Espírito Santo iniciou coma troca do seu nome, fato considerado um enorme desrespeito com aqueles  que nasceram e vivem neste antigo povoado do Divino e com quem luta pela preservação da história e da cultura locais em todo Brasil. Como não foi possível transferi a sede municipal, por puro interesse imediato do mandatário de plantão naquela época, o mesmo  comete o irresponsável erro  de transformar o mercado municipal  na Prefeitura,  e desde então o Espírito Santo ficou  sem seu mercado. Daí cabe à pergunta por que não construíram um prédio novo  para funcionar a Prefeitura municipal? Certamente, que tivemos uma apropriação indevida daquele bem público para  outros fins sem a correspondente compensação, portanto a execução desta medida foi  danosa para a população  no seu conjunto  e os usuários do mercado em particular. Portanto, o fato do prefeito ser afastado, decorre da somatória de erros e desrespeitos com os moradores que vem sendo historicamente cometidos na terrado Divino.  
O tempo passou e os erros continuaram ocorrendo e resultaram na deposição do prefeito Jorge de Araújo Costa (Doutor). Contra ele pesam várias acusações, inclusive a de abuso econômico na sua campanha nas eleições de 2008, algo pouco provável (na verdade não deixa der uma aplicação indevida dos recursos públicos),  já que era candidato único, com relação as demais acusações que indicam o uso de notas frias para fraudar  o FUNDEB, ele tem todo o direito de  se defender, mas caso tenha culpa deve pagar pelos erros cometidos. Já a prefeita (tampão) Irene Mendes Gronemberger, resta apenas completar o mandato de Doutor e tocar a administração municipal sem qualquer pretensão, é o mínimo que se espera. Disso tudo,  fica a lição para o próximo prefeito(a)porque, realizar uma boa gestão dos bens e recursos públicos é preciso evitar a prática de empregar gente que não trabalha. Por outro lado, não cometer nepotismo (empregar parentes), porque tais atos resultam no desperdiço dos recursos públicos, por isso, tem que realizar tudo aquilo que o seu cargo exige. 
O próximo prefeito do Espírito Santo atualmente apelidado de Ribeira tem vários desafios entre eles consertar um erro histórico que é realizar o retorno do nome Espírito Santo, alterado quando obteve a sua autonomia e acabar com este apelido denominado Ribeira. Lembrando, que a prefeitura não é propriedade do prefeito e nem dos seus aliados ou amigos. Portanto, tem que ser administrada para atender as necessidades do conjunto dos moradores do município, independente da filiação partidária, porque os recursos são públicos. O futuro prefeito tem que se livrar das tentações  de empregar pessoas que moram em outras cidade se nunca aparecem no trabalho, prática que sempre aparece na imprensa citando muitos municípios brasileiros e o Piauí se inclui nisto com bastante ênfase, lembrando que tal prática tem que ser banida, visto que ela é criminosa. 
Cuidar da gestão da saúde da população é fundamental, destacando que existe a acusação de  que no Espírito Santo (Ribeira) tem uma edificação concluída para ser um Posto de Saúde, porém por mesquinhez política local e regional, o mesmo ainda não está funcionando. A educação, também merece cuidados especiais dos gestores municipais, os seus recursos tem que serem aplicados nas escolas, desviar, desperdiçar ou apropriar-se dos mesmos de forma indevidas é um crime  imperdoável, que resulta em processo e prisão, portanto  é obrigação do prefeito cuidar corretamente destas questões, é o que se espera da gestão que vai iniciar em 2013.  O retorno do nome Espírito Santo será uma medida relevante que repara um erro imperdoável cometido por mesquinhez política e desrespeito a população do antigo povoado do Divino  e das suas cercanias.        

domingo, 8 de julho de 2012

DA PRÓXIMA VEZ QUE EU FOR A BRASÍLIA...


Edmar Oliveira

Toda vez que vou a Brasília eu volto com uma sensação de vazio. Tudo é imenso, amplo, anguloso. Nem me incomoda o que incomoda os nativos: adoro a claridade do céu, a secura do ar não me coça o nariz, o barro vermelho sangue acho bonito e mais bonito ainda é o cinza seco do serrado ser transformado em flor aos primeiros pingos da chuva. Os monumentos: a catedral, os três poderes, o JK, o teatro, a ponte, a torre, o conjunto ministerial esverdeado com o parlamento ao fundo em um sol de tarde. A alvorada presidencial. Tudo é lindo. Mas volto vazio.

Nada de Brasília é carregável. Não há saudades. Parece que tudo aquilo só pode estar naquele lugar: um presidente bossa nova, um arquiteto delirante e um paisagista apaixonado fizeram uma cidade encantada. É essa a palavra: encantada. E por encanto ninguém anda nas ruas, não há calçadas, não há esquinas, não está previsto o encontro casual. Ele pode se dar nos eventos, mas aí já sabemos que o encontro não é casual. É marcado. Os grandes eixos, assim chamados, são dos automóveis. Brasília é uma cidade dos automóveis. São muito poucos outros veículos. Não há coletivos para o encontro. Há sim, o coletivo de poetas onde o encontro marcado é bacana e a plêiade inevitável. Um açougue que vende livros e corta a carne nos versos é sensacional. O açougue abre a noite para distribuir palavras, lidas ou cantadas. E conhecemos pessoas interessantes, juntadas aos quilos pelo açougueiro que pendura cultura nos ganchos do frigorifico.

No domingo em que vinha embora, um jato me acordou quebrando a barreira do som e os meus sonhos. No dia seguinte li que foram estilhaçados, no barulho do mirage militar, os vidros do Supremo Tribunal de Justiça e várias vidraças do palácio do planalto quebraram. Só faltou atingir o Legislativo (aí cairiam as torres gêmeas para delírio do país). Não havia ninguém nas ruas para contar o que acontecera. Pensei que tinha sonhado. Só soube nos jornais quando cheguei ao Rio.

É tudo vazio e tão lento. Não se podem tomar decisões num lugar assim. Ou não se sabe o que acontece por muito tempo. Fiquei com a sensação que Brasília é um Inhotim do Goiás. Um instituto de arte contemporânea a céu aberto. Bonito. Mas não para o que foi feita.

Não consigo mudar de opinião toda vez que conheço Brasília. Fica pra próxima. A flor do cerrado eu sempre trago...  

Flôr do Cão


Leo Almeida 

Quando pequeno, curvado por tanto sonho, me disseram que aquela flor vermelha no cerrado era a “flor do cão”. Não me ocorre agora quem me a batizou naqueles tempos. Pode ser que tenha sido meu pai, um amigo dele, um colega de escola, não lembro agora. Mas de uma coisa nunca me esqueci, aquela era a “flor do cão”. Para quem a conhece, é flor de um vermelho agressivo, quase vivo, e que salpica o verde e cinza do cerrado com pontinhos escarlates, peludos. Sim, é uma flor peluda, minúsculos filamentos rubros que se expandem numa explosão de cor e volúpia. No menino que ouviu esse nome, ficou guardada a imagem de flor do Diabo, do Demo, não flor canina. As caminhadas para a escola, feitas numa trilha no meio do mato, eram testemunhadas por algumas dessas flores, que também me viam correr, ao fim da tarde, para assistir ao Batman na TV Tupi e ao programa do Tio Darlan. Era 1968. Quantas vezes me peguei perguntando o porquê de “flor do cão”. Será que o inferno era assim vermelho? Se fosse, seria tão bonito o reino do capeta, eu cria, e ao mesmo tempo mergulhava num dilema que envolvia a idéia de não poder haver beleza no cão, nem em seu reino. Naquela época eu ainda temia papai do céu e as artimanhas do capiroto e me era inadmissível haver coisa boa em Lúcifer. Então, um bicho bobo, me perguntava: Por que flor do cão? O menino que fui guardou a imagem e o nome. Hoje, caminhando, deparei-me com alguns exemplares dessas flores do cerrado e, por instantes, vi-me um menino velho, curvado menos por sonhos que por reumatismo, e me ajoelhei para flagrar-lhe a face rubra no meio do mato. Acho que tinha muito de resgate de um menino que não volta mais, que perdeu-se naquelas trilhas do cerrado, cercado por flores do cão, em disparada para ver o homem-morcego derrotar pingüins e charadas. Sei que esse ponto vermelho no cerrado tem um nome, dizem–no Caliandra, nome sem graça, sem mito, sem fantasia. Ao adentrar cuidadosamente o mato, com medo de cobra e escorpião, e me apoiar num galho seco para registrar a flor, senti-me como o narrador do Aleph, ridículo e decidido, acomodando-me na melhor posição para ver, naquela flor peluda e vermelha, uma vida inteira. Sim, era essa a sensação que tinha ao fotografar a flor: estava lembrando de minha infância sepultada no tempo, de mim, menino morto e esquecido, abandonado lá atrás, de olhar perdido numa guirlanda fúnebre de flores do cão. Talvez crescer seja isso mesmo, enterrar pedacinhos de nós na lembrança, os sonhos realizados ou não, desejos saciados ou recolhidos, gente amada, desalmada, querida, rejeitada, e salpicar pequenas cruzes em nossa alma, esse grande cemitério de vontades. 
_______________
Leo é escritor, músico, compositor. Conheci-o na minha ida a Brasília. É um novo colaborador do Piauinauta, com muita honra para a família em órbita.

RARAS IGUARIAS


Lázaro José de Paula

NO  REINO  DAS  ÁGUAS  VOLUMOSAS
MARÉ  ALTA,  BOUQUET  DE  INEVITAVEIS & GLAMUROSAS  ROSAS
MULHER, AMANTE, IRMÃS SIAMESAS  DAS  PAIXÕES
MÃE, DEDICADA , SEMPTERNA, ETERNA
MA  PÕE NO  COLO, ME  PÕE COM OS  PÉS  NA  TERRA
PARA QUE EU MEU   VÕO  DESAJEITADO DE FILHOTE
DE AMANTE   AMOROSO  EXAGERADO
NÃO VENHA A QUEIMAR AS MÃOS QUE AFAGAM
TÃO PERTO DO REINADO DO SOL QUE ESTOU,
A VIOLA E O BICO DO TEU SEIO
NO MEIO DE INIQUIDADES DE ALMAS PEQUENAS.
MAS NÃO HÁ TEMPO A PERDER
COM QUINQUILHARIAS
QUANDO OS NOSSOS SONHOS
SÃO UMA MESA FARTA DE RARAS IGUARIAS

klöZ por 1000TON

Funerais de Presidentes

Geraldo Borges   
.      
          Já estive presente, como cronista, em muitos funerais importantes, funerais de presidentes. O primeiro deles foi o do presidente Getulio Vargas, em 1954, eu tinha treze anos de idade. Morreu em agosto mês aziago. Suicidou-se para bem dizer. A minha cidade ficou triste, desamparada, ruas desertas; os rádios tocavam músicas dolentes, locutores liam a sua famosa carta. O povo chorava. A elite pro imperialista estava aliviada. O velhinho tinha muitos inimigos.

          Quando Getulio morreu Janio Quadros era prefeito da cidade de São Paulo, com a eloqüência que lhe era peculiar fez um discurso, sem duvida engrandecendo a biografia do falecido. Menos de dez anos depois eu votei nele, em 1960 para presidente da República. Foi eleito, juntamente com João Gullart que já tinha sido ministro de Getúlio Vargas. Janio Quadros prometera uma política de austeridade e de combate a corrupção, e virou folclore por causa de seus famosos bilhetes, dispensando a burocracia. Era um prato cheio para os humoristas. Parece que não conseguiu fazer muita coisa o seu tempo no governo foi pouco. Teve tempo para condecorar Che Guevara, o que talvez tenha melindrado as forças armadas.

Tentando alguma estratégia política, ninguém sabe, renunciou, e colocar a desculpa nas forças ocultas, A batata quente ficou com João Gullart, que passou pela campanha da legalidade, e pelo plebiscito para poder governar e não governou. Os militares achavam que ele era comunista e o perderam. O homem teve que fugir.

          Também assisti os funerais de João Gullart, o herdeiro de getulismo, o seu ministro do trabalho, uma morte até hoje nunca esclarecida,

          Passaram – se os anos. Assisti o funeral de Juscelino Os velhos presidentes, os grandes lideres saiam do palco misteriosamente. Depois veio a vez de Tancredo Neves, outro herdeiro de Getúlio. Era uma opção para o advento da democracia, eleito pelo congresso, ia tomar posse. Não tomou. Morreu. Em seu lugar tomou posse um homem chamado Sarney, de confiança das forças armadas.

          E assim terminou vinte e um anos de ditadura, que estava sendo planejada desde o suicídio de Getulio. Quanto aos generais presidentes também assisti aos seus enterros, ouvi as salvas de tiros em suas homenagens. Mas a crônica não está terminada. Um dos presidentes que fazem parte dessa história é duro na queda. Uma academia deu-lhe o titulo de imortal.. 

Sinfonia


Abrimos a janela
E a eternidade entrou
O nosso namoro é assim
(como deve ser)
Nosso tempo é de ternura

(Lelê Fernandes)

A valise do professor

Luiz Horácio


A literatura japonesa reflete o país, nada de homogeneidade. Variada a sociedade, variada a literatura. Resutado: uma produção  extremamente criativa e surpreendente.

Uma literatura que durante muito tempo parecia fechada, restrita às questões japonesas, ou caso prefira, orientais. Nos anos 80/90 o  Japão se aproximou de e outros países da Europa e dos Estados Unidos. Atualmente os escritores japoneses parecem mais próximos dos ocidentais do que dos escritores asiáticos. Mas muito mais próximos dos americanos. Alguns escritores japoneses relutam a essa aproximação, mais por razões  políticas que estéticas ou exclusivamente literárias. Diante disso convém colocarmos a literatura japonesa na estante da literatura mundial, não exclusivamente japonesa.

Bastante peculiar,profissionalizada, impulsionada por um número nada modesto  de prêmios literários. Resultado:  autores de grande produção, sem prejuízo da qualidade, e um número grande, maior que muitos países europeus, de escritores que vivem da literatura.

Disse que a literatura japonesa deve ser vista como literatura mundial e um dos aspectos a comprovar diz respeito a conquista de dois prêmios Nobel: Kawabata em 1968 e Kenzaburô Oê em 1994.

Outro aspecto curioso, principalmente em se tratando de Japão, diz respeito ao grande número de escritoras a vencer os mais prestigiosos prêmios literários. Miri Yû, Kaori Ekuni, Yôko Ogawa, Eimi Yamada, Mariko Ozaki, espero que chegue logo ao Brasil, Hiromi Kawakami.

A maioria  dos títulos das autoras acima permanece inédita em língua portuguesa e, por apreciar significativamente a literatura japonesa a partir dos anos 80, os li em edições francesas.

Aqui neste espaço tratarei de A valise do professor, de Hiromi Kawakami, autora também do excelente Quinquilharias  Nakano- Estação Liberdade,2010.

Falei em prêmios anteriormente e A valise do professor conquistou um dos mais significativos em seu país, o Prêmio Tanizaki.

Hiromi apresenta uma prosa fragmentada, mas, por mais estranho que isso possa parecer, objetiva. Nada é supérfluo, embora delicado e simples, em A valise do professor.

Simples por se ocupar do dia a dia, da rotina, de um casal de solitários, delicado por valorizar os detalhes.

Não me alinho a trupe que enxerga “literaturas”, a masculina, a feminina, a negra, a gay,no entanto a delicadeza que exala do texto de Hiromi, devo admitir, é uma delicadeza feminina.

As autoras citadas anteriormente podem ser “rotuladas”de pós feministas, sem que isso implique qualquer movimento, apenas se diferenciam do feminismo histórico e do feminismo político. Elas conservam o individualismo e retratam, contestam, o mundo cada uma a seu modo.

Em A valise do professor o leitor estabelecerá um suave confronto com o vazio, o vazio fruto da solidão.

Mas se for para dizer que se trata de uma literatura feminista, favor acrescentar “diferente.” 

Tsukiko,  quase 38 anos, mistura o real e o imaginado, lembranças e reflexões. De repente encontra com Harutsuma, seu professor de ensino médio, e passam a se encontrar    para beber no bar de Satoru.  O relacionamento é burocrático, frio. Assim, com suilezas, Hiromi começa a mostrar costumes de seu Japão. Tsukiko e Harutsuma são dois seres solitários e temerosos de abandonar tal status.O professor, vale ressaltar, bem mais velho que sua ex-aluna. Aqui a diferença de idade não chega a ser um problema visto que solidão não costuma fazer distinção. 

“Continuei atrás dele contando as estrelas. Na décima quinta chegamos à rua onde nos separaríamos.
Tchau, acenei e, virando-se, ele repetiu tchau. Eu o segui com os olhos e depois continuei andando até em casa. No caminho contei vinte e duas estrelas, incluindo as pequenas.”  

O começo da relação é tenso, ao mesmo tempo frio logo descobrem pontos comuns, a culinária. Várias vezes coincidem seus pedidos no bar de Satoru.

Entre eles não há compromisso algum e às vezes desaparecem um para o outro, mas voltam a se encontrar, sempre por obra do acaso.

Um tipo de relação aparentemente segura, livre de riscos de dependência,paixões e possíveis amores. Certo? Errado. Tsukiko, não vou atestar a paixão, passa a sentir algo mais forte pelo maduro professor. Sempre em companhia de sua valise.

A relação entre o professor, metódico, ríspido, seco e  Tsukiko, doce, delicada, um tanto intempestiva, é de uma riqueza incomum. Incomum porque simples, incomum porque não é fácil contar uma história simples e ao mesmo tempo profunda e repleto de significados. Além do panorama do Japão, hábitos, costumes, que Hiromi oferece ao leitor.

“Afinal, minha vida é apenas isso. Andar sozinha por um caminho misterioso de uma ilha desconhecida, perdida de seu acompanhante, o professor, que eu acreditava conhecer, mas que de fato é para mim uma incógnita. Em uma situação assim, o jeito é ir beber. Dizem que as especialidades da ilha são os polvos, os haliotes e os grandes camarões. Vou comer montanhas de haliotes.” 

Volte ao começo deste texto, indispensável leitor, repare que este aprendiz citou dois Prêmios Nobel, e agora me atrevo a anunciar para breve, muito breve, o terceiro: Haruki Murakami. Pode cobrar.

a medida do homem


para H Dobal

no silêncio da noite
um poema insiste em não calar 
sapos coaxam, palmeiras cantam
a noite cai e diz: 
uma história não é estória
escrita na água 
durma, poeta!
você tem a medida do homem

(joão de carvalho fontes)

Faixas de segurança

o meu boi morreu...



Recebido de Paulo Tabatinga:

Essa é uma toada do folclore piauiense, da época do Ciclo do Couro, no século XVIII.
Foi gravada em 1916 por Eduardo das Neves e Baiano, em disco da antiga Casa Edson, do Rio de Janeiro.

Veja a letra abaixo e a música aqui, na gravação de 1916:

 http://www.youtube.com/watch?v=obOIQa4MJ98



O meu boi morreu
O que será de mim
Manda buscá outro
Ó maninha
Lá no Piauí

Seu moço inteligente
Faz favô de mi dizê
Em riba daquele morro
Quantos capim há de tê
Se o raio não cortou
Se o gado não comeu
Em riba daquele morro
Tem o capim que nasceu.
O meu boi morreu
O que será de mim
Manda buscá outro
Ó maninha
Lá no Piauí

Me arresponda sem têretê
Mas me arresponda já
O que é que a gente vê
E que não pode pegá?
Aquilo que a gente vê
E que não pode pegá
É a lua e as estrela
Que no céu tão a briá.
O meu boi morreu
Que será de mim
Manda buscá outro
Ó maninha
Lá no Piauí

Vou lhe fazê uma pregunta
Pra vancê me arrespondê
Vinte e cinco par de gato
Quantas unha deve tê?
Intrei no raio de sol
Saí no raio de lua
Vinte e cinco par de gato
Com certeza tem mil unha.
O meu boi morreu
O que será de mim
Manda buscá outro
Ó maninha
Lá no Piauí

Em riba daquela serra
Tem um sino sem badalo
E uma arroba de capim
Pra você comê, ó cavalo
Em riba daquela serra
Tem um sino ferrugento
Se eu hei de comê capim
Coma você, ó seu jumento.

O meu boi morreu
O que será de mim
Manda buscá outro
Ó maninha
Lá no Piauí