domingo, 24 de junho de 2012

muito barulho por nada


Edmar Oliveira

20 anos depois da Rio 92 a revolução tecnológica tomou conta do planeta, ele ficou bem menor e mostrando que corremos perigo de sermos postos da casa pra fora. Mas o capitalismo “serial killer” continua com seus assassinatos programados a caminho de suicídio final. Não percebe que qualquer parasita mata a sua razão de viver. Ou talvez seja da sua natureza do signo do escorpião.

A Rio+20 acabou de acontecer num momento complicado. Exatamente quando a Europa mergulha numa crise cíclica que caracteriza o regime, perigando acabar com o sonho do euro. Na Grécia um cartoon ironizava a respeito de quem ganhou as eleições: a Alemanha! - era a resposta. A Espanha assiste a quebradeira corroer a economia simbolizada numa foto em que todos os apartamentos de um prédio estão à venda ao mesmo tempo. E quando todo mundo vende não existem os compradores. Um torcedor português, em plena Eurocopa, manda a seleção às favas porque ele está desempregado e, evidentemente, desesperado. Ainda bem que Hollande, recém-empossado na França, revogou o aumento da idade de aposentadoria impingido por Sarkozy. Entretanto na Alemanha o ovo do nazismo começa a chocar. A crise cíclica do capitalismo, velha conhecida do esquecido Marx, varre o mundo antigo, enquanto aqui queríamos discutir o “desenvolvimento sustentável”. Os ricos querem o direito de explorar o planeta a qualquer custo e isto foi declarado na ausência dos líderes mais importantes. “Melaram” a conferência que podia ter valido a pena. Será?

Uma mistura explosiva da filosofia e da ciência afirma que o planeta entrou numa nova era geológica, na qual a presença humana interfere diretamente nas eras globais. Recuperam o conceito de “Antropoceno” criado no início do século por Paul Crutzen (Prêmio Nobel de Química de 1995). Tal era global teria marco inicial em 1800, cuja primeira etapa iria até 1945. Essa etapa seria movida pela Revolução Industrial e suas consequências. A segunda fase, denominada de “Grande Aceleração”, situa-se entre 1950 a 2000. Nesse curto período a população dobrou de três para seis bilhões e a quantidade de automóveis de 40 para 800 milhões. Menos de dois bilhões de pessoas apropriam-se de todos os bens produzidos. Quatro bilhões vivem na pobreza, e mais de um bilhão em miséria absoluta. Porque já somamos sete bilhões e alguns trocados. Numa terceira fase teríamos o “antropoceno consciente de si mesmo”, a partir de 2000, cujas regras deveríamos começar a combinar nesta Rio+20.

Eu, com meus botões conversadores, temo pelo “antropoceno suicida”, provando a máxima do Millor Fernandes (que se foi antes que fosse tarde) que “o ser humano é inviável”. Uma minoria vai exaurir o planeta muito antes de que a maioria perceba e possa fazer alguma coisa. Engels disse muito lá atrás que o capitalismo carrega um dilema: o socialismo ou o caos. Rosa Luxemburgo trocou o caos por barbárie e o velho Marx tinha falado em tragédia total com o “apodrecimento da história”. Ninguém pode dizer que não foi avisado que o pessimismo também passou na cabeças dos que pregavam um novo mundo.

Os diversos povos reunidos na Rio+20 devem fazer mais barulho. E até que fizeram um carnaval pela cidade. Mulheres tocaram o bumbo com o peito aberto, um índio foi fotografado tentando acertar com uma flecha os seguranças do BNDS. Simbolismo barulhento. Se esse for por nada, outros deverão gritar mais alto. A comédia de Shakespeare faz barulho por nada há mais de 400 anos...  


COMO UM TUBARÃO


Lázaro José de Paula

PODES BRILHAR SEM PAR
ESTRELA MATUTINA
PODES LUZIR A VONTADE
ESTRELA VESPERTINA
MAS,  NUNCA
EVER , NEVER
ESTRELA CRESPUCULAR
E S P A L H A R
(O DOM, DO TYRANOSSAURO)
A CARNIFICINA

Galo


Paulo José Cunha

No estandarte da crista,
a imponência de um marechal-de-campo,
o olhar superior, as esporas de aço.

E assim,
imbuído dos mais alevantados propósitos,
o comandante-em-chefe dos quintais subordinados
ergue a voz de comando sobre o silêncio dos telhados,
estufa o peito recoberto de alamares e condecorações,
ordena o arquivamento da noite, revoga as disposições em contrário


e declara aberta a manhã.

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DESENHO: Gabriel Archanjo

Dona Maria do Oiti


o diabo da mania de apelidar que tem os do Piauí (fragmento de uma crônica de Arimatéia Tito Filho):

"Lá um dia, vinda das lonjuras do extremo sul do Piauí, chegou a Teresina Dona Maria, viúva, acompanhada de uns quatro ou cinco rebentos em idade de escola. A nova habitante trazia uns dinheirinhos das propriedades e gados vendidos, meação e herança do marido que ela enterrou sem chifre. Alugou casa na zona norte, em cuja frente, na calçada, havia um pé de oiti. O povo logo passou a conhecê-la como DONA MARIA DO OITI. O fruto do oitizeiro de Dona Maria era bem doce, bom de paladar, e os galhofeiros encompridavam o apelido para DONA MARIA DO OITI GOSTOSO. Revoltada, a mulher mandou cortar a árvore. O povo não deixou por menos e deu-lhe a denominação de DONA MARIA DO TOCO. A viúva, inconformada, deliberou arrancar o tronco restante do oitizeiro. Passou a ser chamada de DONA MARIA DO BURACO. Doida de raiva, convocou pedreiro, fez que se entupisse o buraco, cimentando a cobertura. E a verve popular botou-lhe nova alcunha, DONA MARIA DO BURACO TAMPADO. A pobre mulher encontrou a solução: arrumou os tréns, fez os baús, agarrou os meninos e foi-se embora para os seus cafundós onde o diabo perdeu as esporas".


http://acervoatitofilho10.blogspot.com.br/2012/04/apelidos.html


A. Tito Filho, 27/04/1991, Jornal O Dia, p. 4

SALIPI 2012


 10º SALIPI de sucesso absoluto


Maestro Aurélio Melo da Orquestra Sinfônica do Piauí


Assis Brasíl, nosso grande escritor, cercado pela admiração da juventude


Elias e Amaral, prata da casa: o escritor e o cartunista


Ací Campelo, o homem do teatro do Piauí, seu livro e Paulo Tabatinga


Dois talentos da terra: Geraldo Borges e Salgado Maranhão


Paulo José Cunha, o homem do Dicionário de Piauiês, poeta da terra, cercado por menininhas. Vai já arranjar nova namorada e escrever outro livro, o "movido por mulher".

Nosso resenhista é resenhado. Nada mais justo!

Gervásio Castro

O paraibano José Santa Cruz, comediante famoso por seu seus trabalhos no cinema e na TV é também um dos maiores dubladores brasileiros. Quem não se recorda de Dino da "Família Dinossauro"? Dia 29 de junho é dedicado aos que abraçaram essa profissão que exige especialização, estudo sobre o personagem, domínio vocal e, sobretudo, dom. Meus cumprimentos a todos. (Gervásio)

Retirantes da Cheia por Ricardo Oliveira

Olhem que primor! Digna de figurar em qualquer seleção de fotografias do século.
Foi tirada durante as enchentes de Manaus. Cada detalhe é precioso: o quadro, os cachorros, a menina atrás do quadro, as frutas, o velho remando, a mulher com as trouxa na cabeça, tudo.
Algum infiel dirá: ah, o acaso ajudou. Ajudou, sim. Mas o "instante precioso" de Cartier continua imprescindível, apesar das câmeras digitais que instituiram o método das tentativas na fotografia. Sem um bom olho, boa sensibilidade e muita precisão não se chega a parte alguma. O cara clicou na hora agá. Existem outras fotos da mesma cena, mas nenhuma se compara, nem de longe, a essa.
Abraços.
Paulo José
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recebi por e-mail de PJ Cunha. Preferi publicar "estourando" o enquadramento pela beleza da foto.

Céu de cacimba


O olhar pousa firme na cacimba
Nascida por milagre em terra árida
Povoada de arbustos secos e de pedras
Onde pastam famintas cabras

A água trêmula borbulha em círculos
Vulcão líquido em plena caatinga
Esse pulsar de vida em gozo
Parindo aos trancos as entranhas

O olhar vê na água a face de quem olha
Tendo ao fundo um horizonte sem nuvem
Num clarinho de pálidos azuis

Por detrás desse olhar que não se molha
Retos raios de solse iluminam e se dissolvem
No voar plano de urubus esquálidos


(Climério Ferreira)

o soldado corredor


A história de um cabra frouxo...

domingo, 10 de junho de 2012

na boquinha da garrafa


Edmar Oliveira

Um membro da base aliada protestou veementemente na CPI do Cachoeira: “Convocar o Cabral porquê? Porque dançou com um guardanapo na cabeça?” O aliado misturou as fotos e os filmes reveladores publicados no blog do inimigo Garotinho. Eram os secretários da Saúde, de Transportes e de Governo do Cabral que amarraram os guardanapos e dançaram com o Cavenidish (dono da Delta) numa falta de decoro e explícito escárnio público. O Governador se agacha “na boquinha da garrafa” ao lado do empresário para o deleite da comitiva oficial do Rio de Janeiro na Europa.

E as fotos (e vídeos) só apareceram porque o rival Antony Garotinho (em quem também não se cheira a flor) conseguiu o flagrante de um quinta-coluna infiltrado na comitiva. Mas os fatos saltam aos olhos, não interessa a fonte.

Pois bem, o Cabral se calou, a imprensa não mais falou, apesar do flagrante do Vacarezza tuitando Cabral num imoral “você é nosso, nos somos teu”. Jura de amor bandido em que os palhaços da plateia mais uma vez são tratados com desprezo por políticos que desonram a representação popular. O que diabos é falta de decoro? Sou do tempo que se cassou um deputado por se deixar fotografar de cuecas. Outro por apertar o botão de votação de um outro. Estamos nos acostumando com a falta de vergonha explícita? O pior: Vacarezza prometeu a blindagem na nossa cara e cumpriu: o Cabral não foi convocado. Poderoso, o Vacarezza, que numa transformação por osmose de caráter está a cara do Renan Calheiros, né não?

Tem um detalhe da blindagem que não foi divulgado com amplitude merecida: o Aécio, o Governador de Minas que mora no Rio, arranjou uns votos da oposição para livrar o Cabral da CPI. Comenta-se que Aécio pretende uma chapa pós-Dilma com o Cabral de vice, roubando assim o PMDB do PT num projeto dos tucanos para voltarem ao governo (trágico! Já sujaram o Alvorada com a merda do neoliberalismo, esses políticos do bico grande). Mas os dois gostam é de viajar. Quem vai governar? Quem governa o Rio é o Pezão; Minas, Anastasia. Pretendem levar os vices nessa empreitada?

O Secretário de Saúde se diz deprimido e pretende deixar o governo Cabral. Seria muito bom, se fosse verdade. E um caso raro de saciedade política. Nunca vi isso acontecer. Quanto mais têm, mais querem. Mas vá lá: já está rico, com casa numa ilha de Angra, enquanto uma médica de plantão, num hospital da zona Oeste do Rio, se esgoela nas redes sociais desabafando por estar sozinha para atender uma fila sem fim. E ele com isso?

E no Rio temos a provável continuidade do garoto Paes, afilhado de Cabral.  Tá quieto e diz que nem conhece o padrinho.  Fez um governo horrível, mas tem as máquinas: municipal, estadual e federal. Como oposição se apresenta o filho do César Mala, que já fez merda por aqui em várias prefeituras E tem de vice a filha do Garotinho, que com a mulher, além de fazerem a herdeira, acabaram com o governo do Estado Rio em seus mandatos. Cabral governou porque o apoio do governo federal em obras fez a Delta do Cavendish multiplicar os peixes, com sobras para a corrupção com lenços na cabeça e dançando na boquinha da garrafa.

"Tudo que é sólido desmancha no ar" disse Marx numa metáfora para as ideologias, formas de governo e modos de produção. Mas essa merda toda aí tá muito firme. E fede.



E por falar em falta de vergonha, no Piauí o Governador Wilsão nomeou a mulher para o Tribunal de Contas do Estado. Deve ser a única pessoa em que ele confia para julgar suas contas. E a gente com cara de bunda...

  

BALADA DA INOCÊNCIA


Lázaro José de Paula

ENTRE  UM  GOLE  E  OUTRO EU
EU  SORVI  TUA   ALMA
E  VOCE  DEIXOU
PORQUE  É,  FURIOSAMENTE ,  EMBRIAGADOR
MARIPOSAS  GIRAM   A  ÊSMO
EM VOLTA  DA  LUZ  DE  GAS  NEON
MAS  É SÓ  A  LUZ  QUE  ELAS  VISAM
PORQUE   O  GAS,   MESMO  NÃO  ESCRITO  " DANGER "
É  NUNCA  MAIS,   É  O  TORPOR
É  SUICIDIO,  EMBORA,   SEM  DOR     
EU  DESEJO  : O  BENEFICIO  DE  ORDEM,  O BENEFICIO  DA  DÚVIDA
E  O  CONTRADITORIO,   PORQUE,   VISCERALMENTE  SINCERO
E  NÃO COMETI  CRIME   ALGUM
CAPITULADO  NO  CPP
A  MENOS QUE ,  DE  HOJE  DIANTE,
SEJA CRIME  HEDIONDIO
SO  VER  TUA  LUZ
TE  AMAR  PARA  VIVER

magia dos presentes


Geraldo Borges


Minha mãe ganhava presentes em seu aniversário, no Natal, e em outras datas significativa, inventadas e consagradas pelo comércio, como por exemplo, o dia das mães. Tinha cinco filhos mulheres sexo mais inclinado a dar presente. Eu não me lembro, sinceramente, que tenha dado algum dia um presente a minha mãe. As únicas coisas que lhe dei na vida foram trabalho, preocupação e sofrimento, e isso não se embrulha em papel de seda nem e se enfeita com laço de fitas. Comecei a me dar conta de que, os presentes que minha mãe recebia, começaram a abarrotar a sua casa. Mais uma televisão, um jogo novo de sofá, liquidificador,  garrafa térmica,  mesa. Tudo isso poderia até servir. Mas destoavam os moveis antigos que constituíam a paisagem domestica. O certo é que se fazendo uma vistoria nos objetos que minha mãe recebia de presente dava para se montar uma nova casa. Eram tantos presentes que iam se acumulando pelos cantos sem serventia, apenas enfeitavam, e precisavam ser espanados todos os dias.

Minha mãe já nem agradecia os presentes. Começaram a lhe dar cortes de tecidos; alguns eram aproveitados; a. maioria  ficavam amontoados no seu guarda – roupa, mofando. Minha mãe era uma mulher caseira, que sabia fazer renda em almofada de bilros,  remendar roupa e todo mais que dignificasse uma casa antiga, Quando casou no interior, começou sua vida morando em uma casa de palha, com uma sala, uma  camarinha e uma cozinha com duas trempes,dois potes e duas redes

 Minha mãe ganhou muitos vidros de perfumes; gostava de se perfumar depois do banho, Mesmo assim não dava conta  de esvaziar vidros  de perfumes que ia se acumulando na sua velha cômoda que nunca foi trocada. A minha mãe começou a ganhar sapatos em pencas. Não precisava ir as lojas para experimentá-los.  Acho que não abria nem as caixas. Botava-os em cima do guarda roupa. Tinha presentes amontoados que dava para inaugurar uma butique.

Quando minha mãe morreu, os presentes tomaram vulto, e talvez tenham passado para as mãos dos mesmos presenteadores. Eu não estava presente no seu passamento. Nem este presente eu lhe dei. Quando cheguei para a visita do sétimo dia, o único e presente possível que lhe dei foram velas, flores e orações. As velas se queimaram, as flores murcharam, e as orações o vento levou.

Noto que está acontecendo comigo quase a mesma coisa que aconteceu com minha mãe. Estou velho e começando a ganhar muitos presentes de meus filhos, que, ainda bem, são apenas dois, principalmente agora quando não preciso de quase nada.  Salvo de  saúde e juízo.

. Tenho não sei quantos frascos de perfume, presente dos filhos, em cima da minha cômoda. Mas  não tenho a paixão de me perfumar. Apenas abro o fraco e sinto o cheiro.  Depois veio a fase dos cinturões, cinturão de couro, de pano, fivelas estilizadas. Mas eu deixei de usar cinturão. As minhas calças sustentam-se muito bem na cintura, sem precisar de cinturão. Veio o tempo dos presentes de chapéus. Estes são úteis, protegem  o calor da cabeça.Gosto de chapéu. Minha filha me trouxe três de Portugal.

Há poucos dias  levei um susto. Ao acordar vi ao pé de minha cama não sei quantos pares de calçados: tênis, botas, havaianas, alpercatas de couro, sapatos, tive até vergonha de contar. Mas mesmo assim fiquei feliz quando vi minha gata brincando com os cadarços dos tênis

Eu tenho cá para mim que esta história de dar presente aos outros é muito antiga passa pelo Velho e o Novo Testamento. O rei Salomão recebeu presentes, o menino Jesus também, e para muitos continua presente. Mesmo assim os presentes por mais que simbolizem um gesto diplomático de aproximação entre os povos, entre as gentes, nem sempre evitam as guerras Principalmente quando é um presente de grego.
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desenho: Amaral

Rex

O que estava em cartaz no Rex

um rio quando acontece


Um rio nasce de um pingo
Cresce
Se enche de peixes
Inunda cidades
E segue em direção ao mar

Tenhamos paciência
Com o tamanho inicial
Dos acontecimentos


(Climério Ferreira)

1000TON: klöZ

O CORVO- GÊNESE, REFERÊNCIAS E TRADUÇÕES DO POEMA DE EDGAR ALLAN POE


Luiz Horácio

Traduzir é uma arte, uma arte exigente, uma arte sutil. Claudio Abramo em  O corvo - Gênese, referências e traduções do poema de Edgar Allan Poe deixa a sutileza de lado  e apresenta seu indispensável trabalho, de critica e análise, sobre a tradução. A regra vigente no Brasil e, segundo sua experiência e estudo, como deveriam trabalhar nossos tradutores. Ou melhor, ele também analisa traduções de estrangeiros.

O objeto do trabalho de Claudio é o poema "The Raven", apresentado no original, e em várias traduções. De Machado de Assis, passando por uma tradução em prosa de Abramo e traduções de Baudelaire e Mallarmé.

A tradução é um campo que ainda não recebeu a devida atenção.  O corvo - Gênese, referências…. é obra indispensável aos cursos de tradução em nossas universidades. Tradução, essa terra de ninguém, campo onde aventureiros, escudados nas máximas"traduzir é trair", “transcriação e as liberdades daí advindas” ou "traduzir é rescrever" conseguem desfigurar completamente uma obra. Este aprendiz, também no ofício de traduzir, entende que no centro desse debate se encontram  a tradução, as várias formas, e o original. O grau de equivalência do texto de chegada em relação ao texto de partida.  Equivalência quer dizer sonoridade? Para algus sim. Priorizar  sons e ritmos, deixar a semântica em segundo plano, esse o modus operandis da maioria tradutora brasileira.

Claudio Abramo não se alia a tal corrente. Entende que ao agir dessa forma a tradução despreza o que há de mais importante no poema.

O trabalho de Claudio Abramo é de uma riqueza rara em livros de critica literária.Aqui, além das questões técnicas estão bastante evidentes o estudo entusiasmado ( só para não dizer apaixonado) e a coragem em com que expõem sua insatisfação aos rumos tomados pela tradução no Brasil. O autor rema contra a corrente e, como não sou de ficar em cima do muro, pulo para o interior de seu barco.

Coragem pois aponta equívocos no trabalho do, para muitos - não me incluo - intocável, Machado de Assis. E a coisa se torna ainda mais grave, Claudio  revela a origem de tais problemas. Nada mais nada menos que a tradução de Baudelaire. Pois é, Machado de Assis não teria usado o original "The Raven", trabalhou a partir de "Le Corbeau", a tradução assinada por Baudelaire e repetiu os erros do poeta francês.

Claudio Abramo aponta os erros, diz como seria o correto e justifica lançando mão de notas e observações. Sobre a tradução de Fernando Pessoa, por exemplo:



Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,

Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.

Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,

Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais,

Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,

                                               Foi, pousou, e nada mais.

A seguir Abramo esclarece:

Os tempos ancestrais não são “bons”no original, mas “santos”. Mais adiante na 12 estrofe, Pessoa coloca “maus tempos ancestrais”um jogo de contrários que de modo algum está presente no original. Pessoa identifica Palas a Atena, uma imprecisão comum.



Dentro da imensa gama de teorias da tradução, escopo, equivalência (em seus intermináveis tipos) você, caro tradutor, com certeza encontrará ao menos uma que preencha suas expectativas ou limitações.

Tem para todos os gostos. Pobre leitor monoglota. Engolirá cada coisa!

A tradução não é uma terra de ninguém, tampouco um laboratório a produzir clones, mas deixar nítida sua origem, a paternidade se é que me faço entender.

suspiros


Não há veneno pra por pra fora
Não há respostas
Soluções não há
Há uma lua de prata na testa
Um mar que quebra sem parar
Um amor que não pode ser contido
Um suspiro
Ah...

(Lelê Fernandes)

Paulo José Cunha na parada


e-mail de Paulo José Cunha:
O Açougue Cultural T-Bone, que começou disponibilizando livros a quem ficava esperando o açougueiro limpar o filé, depois montou uma boa biblioteca pública, passou a oferecer livros de graça nas paradas de ônibus, agora resolveu homenagear oito poetas de Brasília - Aloísio Brandão,  Amneres Santiago, Fabrízio Morelo, Jorge Amâncio, Luiz Martins, Miquéias Paz, Paulo José Cunha e Vicente Sá.   

Fiquei muito feliz ao saber que, graças à generosidade do Luiz Amorim, dono do T-Bone, agora dou nome a uma parada de ônibus que fica na W-3 Norte, entre as quadras 512/513. Lá foi instalado um painel onde quem espera o ônibus pode ler o meu poema Brasilinha (que  virou xote nas notas do parceiro Roraima). E ter acesso à internet 24 horas! Bacana, não é?

O projeto tem apoio da Petrobras, da Administração de Brasília, da UnB, da Biblioteca Demonstrativa, da Unesco e da Biblioteca Nacional.

Aí vão algumas fotos da parada. E três links, pra quem quiser saber mais sobre o projeto.




WWW.T-BONE.ORG.BR

Cantata Gonzaga


João Claudio, que por ser imitador dos bons virou humorista maior, aqui com a Orquestra Sinfônica do Mestre Aurélio incorpora Gonzaga com a alma. Genial!