domingo, 5 de dezembro de 2010

aniversário


O Piauinauta comemora seu terceiro ano no ar. Iniciou esta viagem em 20 de novembro de 2007. Tão distraído estava que esqueceu de comemorar na data certa, na edição passada. Já comemora 3 dobras no tempo...

O Piauinauta deve ir passar o Natal e Ano Novo em casa. De volta no ano que vem. O quarto no espaço...

Canção do Amor Tranquilo



Como o Piauinauta vai passar o Natal em casa, podem abri-lo vez por outra para repetir essa beleza de canção, ainda inédita, mas que estará no próximo disco de Climério Ferreira, duvidam?

o conto deste Natal



Edmar Oliveira
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O Capitão Nascimento saiu da tela do cinema, convocado que foi pelo governador Sérgio Cabral, para comandar a invasão do Complexo do Alemão. Assumiu a missão após a debandada dos bandidos da Vila Cruzeiro correndo a esmo, ao vivo e com aplausos de transeuntes nos shoppings e lojas de TV. Aquela ação na Vila Cruzeiro havia sido comandada pelo aspira André que morrera no último filme de cinema e estava liberado para a ação real.

Quando o Nascimento assume o comando das tropas, ordena uma ação politicamente correta, que aprendeu com o deputado Freixo, para não repetir as atrocidades do primeiro filme.

- Quero atenção com a comunidade. Só vale estapear bandido. Chega na porta gritando "Pede pra sair"! - e o capitão ainda se preocupava com os policiais corruptos que já começavam a saquear os comunitários - "se eu vejo um merda desse lambendo sua caceta, eu boto pra fora do Bope num tapa".

As velhinhas beijavam o Capitão, que, com as crianças no colo, comandava a tropa.

- Sobe a viela, mete o pé na porta. Não tá vendo que essa é casa de marginal disfarçado de morador?

O pessoal aplaudia, uma velhinha se acocorou demoradamente por causa do reumatismo, mas escapou dos tiros, que o Padilha mandou filmar em câmara lenta. O Capitão Nascimento comandava a tropa arrodiado de crianças que faziam uma algazarra brincando de Bope. Em duas horas e meia o Complexo do Alemão foi retomado pelas forças do bem.

Vinte e quatro toneladas de maconha, duzentos e cinquenta quilos de cocaína, armamento pesado e farta munição. Casa a casa foram revistadas. Os bandidos evaporaram. Mas a tropa entregou ao Nascimento duas cabeças do tráfico. Um menino de dezoito anos tão assustado que denunciava a culpa de ter aterrorizado a população indefesa e um garoto de vinte anos no qual as tatuagens denunciavam a culpa: "Fernandinho Bera Mar", "Maconha só de boldo" e "Eu cheiro" entre outros. Nascimento exibia o troféu enquanto a câmara do Padilha transformava as tatuagens em legendas.

- Pede pra tirar! - gritava o Capitão querendo arrancar àquelas inscrições à tapa.
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Um Papai-Noel que saia pra trabalhar olhava a cena e imaginava o que leva um moleque marcar o próprio corpo com a falta do futuro. O Papai-Noel, de natais passados desistia. Aquele menino não tinha passado, presente ou futuro, e, se era culpado por ameaçar nossas vidas, como exibia a televisão ao vivo, nós já tínhamos tirado a sua vida. E pra quem não tem nada, nem mesmo a vida, não há presentes de natal.

Papai-Noel voltou pra casa na comunidade e o jingo bell se transformou na música dos caveiras.

Ruminantes considerações bovinas



Geraldo Borges




Quando nos, os animais, falávamos, até que podíamos desabafar. Hoje tudo mudou. Ninguém mais abre o bico. E se e ainda possuíssemos este dom eu abriria o verbo para dizer um bocado de coisa que está atravessado em minha garganta. Eles não entendem o nosso berro. Fazemos parte da historia da humanidade, tanto da história natural como cultural. Pertencemos a mitologia. Quem não se lembra de Pasifae, a rainha, que se apaixonou por um touro branco saído da espuma do mar e por engenhosidade de Dédalos o possuiu. Deste estranho congresso nasceu o Minotauro, metade homem, metade touro, e que até hoje assusta os turistas no Labirinto.Também estamos no zodíaco . E no Wall Street. Mas para possuirmos a celebridade que temos tivemos de trabalhar muito de sol a sol desde os primórdios dos arados no Egito, servimos nos moinhos, nos carros de bois. Mas nunca nos deixa morrer de vclhice, cansados. Sempre estão prontos para nos matar e aproveitar o couro. Isto quando nos somos manadas do plantel de engorda, prontos para o matadouro.



Em uma província do sertão Nordestino, o Piauí, que se dedicou abundantemente a nossa criação no período colonial, tinha mais boi do que gente, de modo que um ovo de galinha era mais caro do que uma res. Pode acreditar meu pálido leitor. Caso não bote fé no que estamos dizendo e só consultar os anais da história econômica da província. Era tanto boi que nasceu a civilização do couro, dentro de um contexto bárbaro. Aí os homens, esses verdadeiros deuses, nossos criadores, que se alimentam de nosso sangue, de nossos ossos e tutanos, começaram a construir camas de couro, canecos de couro, portas de couro, chapéu de couro, perneiras de couro, gibão de couro, tamanco de couro, cinturão de couro, relho de couro, tabaqueira de couro, algibeira de couro. E haja couro de boi espichado e curtido.



Mas vamos passar para a nossa carne. E dessa iguaria que os homens gostam. Alimento nobre. Vitela. No começo quando éramos abatidos nos matadouros, sem muito higiene, ao ar livre, no meio das moscas e dos cachorros,a carne, era uma só, misturada com ossos. Não tinha este negocio de nos dissecar anatomicamente em várias partes qualificadas, em mais nobre, menos nobres. Como por exemplo: patim, posta gorda, cupim, alcatra, filé, contra filé, colchão mole, etc. Sem falar na rabada, na costela, na mão de vaca, nas vísceras para panelada. Hoje a maioria das pessoas que podem adoram a picanha os domingo nos churrascos.



Hoje a população do mundo está cada vez maior e não para de nos usar como alimento. E nos também estamos crescendo com eles. Mas o pior é que todo homem que come carne está condenando a vinte ou mais de seus semelhantes a passar fome. Com o incentivo do homem nos somos um grande predador. Para produzirmos um quilo de carne temos de ingerir pelo menos quinze quilos de alimentos vegetais - muitas vezes alimentos que poderiam ter sido consumidos diretamente pelo homem.



Ninguém sabe no que a pecuária vai resultar. O certo é que tem muito boi na linha. E vai ser grande o atropelo. Mas nos estamos dando muito trabalho para sermos criado. Às vezes precisamos até de ar condicionado, principalmente quando somos um bom reprodutor. Estes duram mais tempo e não vão para o cardápio do dia. Precisamos de uma mão de obra bem treinada para darmos resultado. Muito antibiótico, vacina, chip. Assistência diária com veterinário Não mais tão simples como nos velhos tempos em que se precisava apenas de um cavalo areado, um bom vaqueiro, com gibão, espora, chocalho, creolina para curar bicheira. Chuva para o capim crescer, e formar um bom pasto. O gado era crioulo, rijo, habilitado a enfrentar o agreste. Boi pé duro, de lombo liso, sem cupim e que agüentava carrapato e mutuca.



Hoje, a nossa criação, como já disse, carece de muita tecnologia, de cursos universitários. Matadouros e frigoríficos são coisas tão profiláticas que parece até que estamos em uma sala de hospital. Higiene absoluta. Morte limpa. Sei não. O que sei mesmo é que é um terror. Quando nos aproximamos do corredor da morte, muitos deles, morrem do coração. Um choque antecipado, antes da hecatombe.



De certo modo os homens tentam compensar o nossos sacrifício criando uma cultura em torno de nós, como se quisesse dignificar a nossa alma. Por isso mesmo adoram o bezerro de ouro. Viramos Bumba Meu Boi e outros bichos folclóricos por ai, e, sem o mínimo de pudor, entramos na intimidade familiar com os nossos cornos. E as vezes saímos vingados quando conseguimos matar um toureiro.



Quem sabe um dia vamos deixar de ser a boiada. Continuaremos apenas mito para o desafio dos homens. Eis finalmente algumas considerações de um animal ruminante que gostaria muito de falar para poder se defender da sanha faminta dos homens.

Gestação

Ana Cecília Salis



São minhas,
As palavras são minhas...
E aos cuidados do tempo
Posso parí-las em poesia...

Filhas meninas que protejo
De todo julgamento de feiura
São lindas as minhas poesias
Porque são minhas...

Cirandeio e deságuo nelas...
Soam-me música...
Abraçam-me apertado...
Distraem-me o silêncio...

E uma a uma...
Testemunham
A minha fêmea travessia
Pois são vivas as minhas poesias...

Quando tristes, são plenas...
Quando arteiras, são ferinas
Quando solitárias, andam juntas
Quando feias, as faço belas

Se são minhas,
são herdeiras...
Pois sou mãe
De todas elas...

Clichês


1000TON


Casablanca, de Michael Curtiz: simplesmnte genial ! 2ª Guerra - todos os clichês possíveis e imagináveis estão nessa fita – charme, dor-de-cotovelo, fossa, arroubos de paixões e de nacionalismo, o vilão aproveitador da situação, desempenhos magistrais dos atores. Até o Douglas DC-3 contracena maravilhosamente com os dois protagonistas Bogart e Bergman. Aliás esse aviãozinho é considerado uma das máquinas mais perfeitas já inventadas pelo homem (foi criado em 1941 e o nosso glorioso Correio Aéreo Brasileiro utilizou essas aeronaves até os 70’).

E não é que o nosso Molusco Presidente também ficou bem numa outra fita? “O cara” simplesmente promoveu a “desfederalização”, pelo avesso, dos Estados Unidos do Brasil !

Eu explico:

A súcia da elite paulistana, incluindo os tucanos, que pensam o Brasil a partir de Higienópolis, reúne-se todos os dias da semana em torno do seu tea party das 5 da tarde. Há decênios, desde a revolução de 32, pretendem fazer de São Paulo um Estado só para os paulistas de nobre linhagem, varrendo pobres e nordestinos do mapa ou afogando-os, conforme sugere a nossa bonitinha-mas-ordinária-nazistinha-estudante-de-direito Mayara Petruso.

Bem distante dali, os catinguentos paus-de-arara receberam, no Governo Lulamolusco, bem sucedidos programas sociais e projetos de desenvolvimento para o Nordeste. É inegável, fizeram tanto sucesso que hoje podemos constatar:

NÃO FOI SÃO PAULO QUE SE SEPAROU DO NORDESTE E, SIM, O NORDESTE É QUE SE SEPAROU DE SÃO PAULO ! Tá inteindêindo, ô meu? Hoje são os paulistas que estão precisando dos nordestinos e não o contrário! Ainda por cima são mal agradecidos, porque a migração de cabeças-chata para poluir a paulicéia desvairada diminuiu consideravelmente.

Que o digam as madames paulistanas, aquelas que na sala de espera dos consultórios médicos só lêem “Caras” e rasgam as folhas de “Contigo” para ler em casa, porque têm vergonha de comprar na banca. Esse analfabeto operário deixou-as sem mão-de-obra barata para pilotar as suas Dellano-cozinhas com seus Brastemp-fogões, além das Electrolux- máquinas-de-lavar e Celite-tanques de roupa...

Evidentemente ainda falta muita coisa para ser feita, lógico. Falta, por exemplo, a inclusão do Maranhão, o estado mais pobre do país, Sinecura do Clã dos Sarney, essa SARNA que se abriga no poder desde a ditadura militar, passando anteriormente pelos governos Collor, Itamar e FHC.

Ô xente! Os nossos irmãos nordestinos, depois dessa boa sacudida na nossa tupiniquim pirâmide social, agora incluídos como cidadãos brasileiros, estão ficando tão arretadamente satisfeitos que já estão querendo imitar o chá das 5 dos Higienopaulistanos, os paulistanos higênicamente limpos e puros, os dignos e legítimos representantes da raça braZileira.

Estão até pensando em programar, todas as tardes, um ”Macaxeira Assada com Cajuína. Só que este convescote será programado para ter início lá paras 6 e meia ou 7 da noite. Sim porque os nordestinos dão um duro danado, só estão largando o pesado às 5 ou 6 horas da tarde e até chegarem em casa leva um tempinho, né?

Fiquei sabendo que no happy-hour do nordeste pode ir quem quiser, o evento não é, absolutamente, excludente. O objetivo principal é a confraternização entre todas as raças, todos os irmãos, vindos de todos os cantos desse Brasilzão. A Vila (Euclides) não quer abafar ninguém, só quer mostrar que faz samba também (e xote, xaxado, baião, côco, etc).

Como prova disso até o provecto Jabour foi convidado, mas não apareceu...Preferiu participar, como de costume, do encontro dos barões de sangue azul-tietê, todos muito elegantes e cheirosos, cujo principal e ilustre convidado é o filósofo das profundezas abissais, o FHC, desde priscas eras, seu guru e provedor de esperma.

Big Sentido




O Piauinauta, a partir dessa Edição tem o prazer de publicar poemas do capítulo "Lingerie" do livro, ainda inédito, Big Sentido, do poeta DURVALINO COUTO FILHO. Deliciem-se.

(justo na edição 69)

Lingerie


Se não conseguir enxergar coloque óculos ou click na imagem para vê-la melhor...




Terra do Sol



Edmar Oliveira


Natal é uma cidade em que chove raramente. E o sol desponta às quatro e meia te convidando à praia. Como tenho ido ali em demasia, testemunhei uma chuva. Na minha terra, chuvisco. Já à noitinha uma garoa se arrisca a cair do céu, quando nuvens enganam o sol que nunca sai do firmamento enquanto a lua não vem. Os pingos se atrevem a sair miúdos, como a pingar do bico de um regador em ventania: chove mais em vertical que na horizontal. E logo não há mais chuva.

As nuvens não se aquietam no céu pela ventania do tempo. O mar se encrespa desenrolando na areia devagar. Na preguiça nordestina. O sol se levanta cedo demais, mas demora muito mais a ir ao meio do céu. A manhã é muito comprida em Natal. Você caminha na orla, mergulha ao mar, enjoa do sol, vai à cerveja com camarões, passeia no artesanato potiguar, almoça carne de sol com jerimum, ou camarões e macaxeira, ou uma peixada com queixo coalho, ou mistura tudo depois de ter provado uma tapioca com ginga na Redinha. E deita na rede pra cochilar pensando em quanto a vida pode ser devagar para se viver um pouco mais.

E percebe que o que parece um mês em qualquer lugar nem sequer é um meio de dia em Natal. À tarde, o quê fazer? – Ai, que preguiça! – diria Macunaíma. O sol se espreguiça na tarde, o cajueiro de Potengi faz mais uma rama, a rota do sol se ilumina em Búzios, nas lagoas, que são atravessadas num braço de mar rumo a Timbau: - Meu Deus, que lindo! O paraíso foi organizado nessa lagoa de aluá. O por-do-sol se esconde dentro dela. A noite chega, muito devagar, que se podem sentir pedaços do dia no claro e outros em escurecer. Como que se atravessar do dia pra noite fosse uma decisão minha e não do tempo.

Amanhã começa tudo de novo, como se o paraíso pudesse ser recriado...

___________


foto: por-do-sol em Timbau do Sul (edmar)

Fascínio


Juarez Montenegro



A luz esplende um céu engalanado,


alvejando inda mais as nuvens brancas


que resvalam sedosas... como as ancas


das supimpas beldades dum bailado.

*

A noite encanta um vate inebriado...


e palavras tropeçam, ficam mancas,


pensamentos se abrem como sancas...


um coração palpita extasiado.

*

Mas, se vens ao encontro deste afeto


como a luz que constela o firmamento


e abrasa um cometa predileto,

*

este ser ofuscado se defende


exaurindo as razões do sentimento...


a luz um céu engalanado esplende!


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Tá danando o mestre Jura. O vate engalanou as moças...

O livro



Paulo José Cunha

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O livro não é o livro,

mas principalmente sua cor,

seu cheiro,

sua pele.

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Além do livro,

a anotação tatuada em suas margens,

o reencontro marcado

no canto dobrado da página.

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Mais que o livro

é o dorso puído,

a dedicatória quase ilegível,

a mancha de café

e o bilhete de namoro,

escondido entre as páginas,

cheio de maravilhosos erros de concordância.

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Mais que as páginas,

o livro é o infinito de páginas da rosa ressequida,

por anos esquecida

dentro do livro

e de repente achada e lida,

e relida

em cada pétala,

em cada página da vida

revisitada

e

revivida.

João Pessoa



Edmar Oliveira




Surpreendente a pequena João. Se a Paraíba é macho, sim senhor, João Pessoa é feminina. Da bela lagoa do Parque de Lucena as ruas partem em direção ao mar. E chegam logo. No centro histórico a conservação arquitetônica e o conjunto católico de São Francisco é de uma beleza colonial, conservada desde muito antes de mudar de nome para o mártir que provocou a revolução de 30.


A orla se desdobra em praias maravilhosas ao norte e ao sul. A ponta do Seixas, com seu farol modernoso numa arquitetura de gosto duvidoso de um general da ditadura militar indica o ponto do território nacional mais próximo da África. Onde o sol nasce primeiro. A cultura nordestina se impõe em todos os lugares. Até na praia os repentistas do cordel se oferecem no seu improvisar em sete versos, que é a forma cantada do falar paraibano, mostrando o orgulho de ser nordestino.





O hotel Tambaú, outro crime arquitetônico fincado na areia do mar e dentro d’água pela arrogância dos anos de chumbo, ficou bonito e se tornou um símbolo da cidade. E é interessante testemunhar a grandiosidade de concreto armado com que o Sérgio Bernardes desafiou Niemayer. Mas é impagável testemunhar a modernidade dos anos sessenta ser açoitada pelo mar na maré alta. E singular o estacionamento dos barcos dos pescadores no fim da tarde trazendo o pescado ao mercado do peixe.


A culinária do sertão é exuberante na João Pessoa. Carne de sol na nata com arroz de leite e feijão verde em caldo farto é muito bom. Mas os pescados são de botar água na boca também.


Agora tem um passeio imperdível no fim da tarde: o pôr-do-sol do Jacaré. Vá até a praia fluvial do jacaré, no rio Paraíba, que fica no caminho de Cabedelo e espere o relógio marcar cinco e dez da tarde. Jurandir do Sax aparece como mágica numa canoa e de pé sobra o bolero de Ravel que é transmitido para os amplificadores de todos os bares e restaurantes. E neste inusitado surreal o sol se põe embevecido pela sonoridade do Jurandir. Absolutamente sensacional sem qualquer tom de breguice, como quem ainda não viu pode imaginar.


Para quem é do mar tem ainda o passeio de jangada aos arrecifes que se fazem terra firme na maré baixa. Mas como quem é do mar é regido pelo calendário lunar da tábua das marés, tem uma fase da lua que eles não aparecem. Na vez que fui eles não apareceram.


Hoje trago um abraço pra ti, pequeninha. João Pessoa ainda vai ser descoberta como já foi Fortaleza e Natal. E aí vai ficar menos bonita.


Mario Faustino



SONETO

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Necessito de um ser, um ser humano
Que me envolva de ser
Contra o não ser universal, arcano
Impossível de ler
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À luz da lua que ressarce o dano
Cruel de adormecer
A sós, à noite, ao pé do desumano
Desejo de morrer.

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Necessito de um ser, de seu abraço
Escuro e palpitante
Necessito de um ser dormente e lasso

.
Contra meu ser arfante:
Necessito de um ser sendo ao meu lado
Um ser profundo e aberto, um ser amado.

.
(Mário Faustino - O Homem e sua hora - 1955)

ilustração de Netto de Deus no Picinez-Piauí

poemicro

MEMÓRIA RECENTE

Para não esquecer anoto os versos,
Mas não sei aonde deixei o caderninho

(Climério Ferreira)

El Pintor




Não sei o que acontecia na Teresina dos anos sessenta para os setenta do século passado, mas fomos invadidos por boleros e guarânias em casteliaños, que ressoavam da Rádio Difusora até a Rua Paissandú. Quem viveu naquela época lembra dessa. E esse era um sucesso equatoriano. Cacete!


Garimpado por Lázaro José, me passada por Etim.