quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Duas Luas em Agosto*



Climério Ferreira

Duas luas em agosto
Os astronautas se perderão no espaço?
Os namorados duplicarão seus beijos?
Teremos dois santos guerreiros e dois dragões?

Duas luas em agosto
A dos poetas do passado clara e pálida
Cheia de buracos como uma estrada brasileira
Vazia de ventos e gravidades

Duas luas em agosto
A vermelha dos poetas do futuro
Ígnea como uma bandeira japonesa
Com tempestades sépia qual solo nordestino

Duas luas em agosto
Dois raros e celestes encantamentos
Cosme e Damião entre as estrelas
Um lampejo original na via láctea



* a lua & marte formarão 2 luas na meia noite do dia 27 de agosto de 2009 (hoje).
o fenômeno só se repetirá no ano 2287.

Notícias Inúteis

Edmar Oliveira



Na antiga Teresina, esperava ansioso a chegada do “Correio da Manhã”, que só chegava à tardinha na Praça Pedro II. Jornal do “Sul Maravilha”, ditava os acontecimentos nacionais e internacionais e rendia os papos com cerveja no velho Bar Carnaúba. Os jornais da terra só falavam das futricas locais nas colunas do Mauro Júnior e Elvira Raulino. Não traziam as notícias que eu queria saber. O “Correio” não. Jornal parrudo e discordante da ditadura de antanho (tanto que terminou fechado pelos milicos de merda), nos informava dos rumos e prumos do planeta. Tinha o jornal azul da “Última Hora” que nos alimentava da Geléia Geral do poeta triste. E tinha os alinhados da ditadura, “O Globo” dos Marinhos e o “Estadão” dos Mesquitas. A gente até podia escolher a versão ideológica das notícias que ia ler. Me lembro do Alberoni Lemos (ou era o Evandro?) que fazia questão de ler as notícias oficiais militares n’O Globo. Mas jornal tinha serventia. Vendia notícia, opinião, cultura e informação. E esses artigos, na Teresina do passado, eram como o pão com garapa do Caçula. Enchia o bucho da alma...



Eu não sei se as notícias estão acabando ou os jornais. E eu, viciado no jornal de papel, fico meio perdido. As notícias foram para a telinha que antecipava o jornal e agora na Internet saem em tempo real, deixando os assuntos no jornal de papel com gosto de ontem. Mas aí eu não sei se a crise é só do jornal. Parece que nessa modernidade pós não há novidades. Tudo duma mesmice só. Até os escândalos são antigos: Sarney, Renan e Collor já fazem essas merdas há vinte anos e se requenta a janta que foi comida no almoço. O golpe dos militares em Honduras é coisa do século passado, não tem a menor importância, não fede nem cheira no mundo de hoje. A ditadura de Chaves é arremedada de democracia. O Lula faz um bom governo às custas de desmoralizar a esquerda no poder e se tornar isômero dos direitistas de ontem. O Obama faz do nosso antigo opressor um governo simpático que toma cerveja com o conflito. O comunismo chinês é campeão do crescimento capitalista no mundo. A civilização européia não suporta os imigrantes e a esquerda usa o discurso da direita. Nem sei pra que lado vai o mundo...



Só sei que vou tomar minha cerveja pra encarar o que já não entendo. O mundo ruma para uma mesma Geléia Geral do poeta triste. E nela não há notícias que se possa entender. E os jornais de papel estão acabando... Não me segue nesse Twitter que eu não sou novela!

O Tempo



Ana Cecília Salis


O tempo se volta sob mim
e me derrama à memória
o leite da pele fresca
do meu rosto aos vinte

Tez...

O tempo despe-se de mim
e encabula-me estática
frente ao espelho murcho
de corpóreas verdades vivas

Nudez...

O tempo cobre-me de passado
e arranca-me do sono
para a implacável pressa da lida


Palidez...


o tempo...dizem que passa
mas não me desfaz
dessa fétida ferida

Estupidez...

O tempo me joga para lá
e para cá
de qualquer dos dias de antes
para o preciso instante dessa escrita.

embriaguez...

E não me promete nada...

porque é cego
e não vê

O que ainda
posso fazer
dessa minha


E tão,

E só minha
Interminada vida

Esperança...

Política em mesa de bar



Geraldo Borges

Imagine só, caro leitor. Em todos os bares, aos sábados e domingos armam-se tribunas, os fregueses, tentam salvar a pátria através do diálogo. Alguns se exaltam. Ali as noticias dos jornais são discutidas. Começa-se saber de que lado cada um se encontra. Um espinafra o presidente que não está nem ai, pois vive sempre viajando. Voando. E tem uma claque muito boa que não para de bater palma para ele.
Outros espinafram o velho Sarney, um dos últimos coronéis dos sertões do nordeste, que fez sua estrada desde os tempos da UDN, percorrendo atalhos e desvios foi deputado, chegou a governador, escolhido pelos militares, no tempo da ditadura. E por um golpe do destino chegou à presidência do Brasil, depois da morte de Tancredo. Treva. Quando terminou seu mandato desastroso virou senador pelo estado do Amapá. Há quem defenda o Sarney,
Ele não é um homem normal, com a biografia que tem. Mas é preciso que seja bem lida, nas entrelinhas, para que se possa compreender melhor o seu conteúdo. Pena que o povo brasileiro não sabe ler. E a imprensa que tem a mania de transformar os fatos em metáforas complica ainda mais o entendimento da plebe, e todo vira ficção. .Realismo mágico. Castelos mal assombrados, com passagens secretas...
Mas vamos deixar o Sarney em paz, que é o que ele quer. Alguém já quase bêbado, mas, ainda, se agüentando nas pernas, pede a palavra, diz que a corrupção é como cachaça, a gente toma, bebe o primeiro copo, depois o segundo, acha bom, e não pára mais. Diz que a corrupção começou desde os tempos de colônia, império e consagrou-se na república quando começou a correr mais dinheiro. Hoje é um mar de lama, onde quase todos os políticos estão afundando. E que não adianta reforma, pregar remendo novo em pano velho. Está na Bíblia. E os políticos não ligam para religião. Se aparecer outro Dante para escrever outra divina comedia eles estão todos no inferno Têm o rabo preso e vão arder no inferno junto com as suas pizzas. Seria melhor retirarem a palavra Deus da preâmbulo da Constituição, isto é uma farsa, pior do que Pilatos lavando as mãos. O bêbado cala a boca.
Outro continua. O Brasil não é um país sério Mas não vamos misturar o estado com a nação. Nosso povo é trabalhador e honesto. Acorda cedo, pega ônibus, se esfalfa no trabalho, ganha pouco, mas vai resistindo. Não troco um anônimo cidadão que trabalha por nenhum deste políticos que só falam besteira e não respeitam os seus eleitores.
Não ligam para a opinião pública...
Mas política sempre foi assim mesmo, diz alguém que parece não estar tão bêbado. Todo povo tem o governo que merece.
E você merece o quer?
Eu mereço um ato secreto, uma nomeação para o Senado.
Bom. Se você fosse afilhado do homem, quem sabe?
É. Boca falou cú pagou. Muitas vezes o cara só fala da boca para fora. Mas se tivesse lá em cima gozando de consideração, fazendo parte da igreja, não vacilaria um minuto em aceitar uma vantagem condecorada e remunerada.
E isso aí cara, você, por exemplo, se daria bem.
Não vejo por que não. Sou daqueles que dançam conforme a musica. Neste país nunca vi nenhum político ir para a cadeia. São eles que fazem as leis e desfazem. O estado é uma máfia legalizada, e protege os seus membros. Bem pensa e tem juízo quem fica de seu lado.
Porra cara pede mais um copo pra ver se tu melhoras.
In vino veritas.
O dono do bar olha para o relógio. É mais de meia noite. Ele não está gostando muito da conversa besta de seus fregueses. Mas como também tem de fazer a sua política, não diz nada. Evita expressar a sua opinião Quer agradar a gregos e troianos... Mesmo assim diz que daqui meia hora vai fechar o bar. E sente muito ter que acabar com a assembléia de seus fregueses. Gostou do papo. Quem sabe da próxima vez, no sábado, dará a sua opinião.

____________

foto: Escultura de Conversa de Botequim de Noel Rosa. em Vila Isabel, Rio.

Guardados



Graça Vilhena

Do tio que não conheci
tenho um pião de madeira
uma gravata de festa
e um retrato magro

coisas que me olham
quando me procuro
na inteireza das sobras.

HISTÓRIA DE MIL E UM AMORES





Cinéas Santos


Ao poeta Paulo Machado






Permitam-me iniciar esta arenga parafraseando Quintana: quem ama reinventa, a cada instante, a coisa amada. Só assim, o amor se faz “infinito enquanto dure”... Gosto de reinventar Teresina, imaginando-a uma colcha de retalhos costurada, carinhosamente, por milhares de mãos, mãos de todas as cores e procedência. A mão fidalga de José Antônio Saraiva assinando o decreto de transferência da capital da província dos ermos sertões de dentro para a esplanada da Chapada do Corisco; a mão firme de mestre Isidoro França traçando o quadrilátero inicial, sob um rústico teto de palhas; as mãos suaves do vigário Mamede Antônio de Lima abençoando a pedra fundamental da igreja do Amparo; as mãos ásperas de centenas de escravos sulcando a terra para plantar nela sonhos que não eram seus... Reinvento uma cidade luminosa brotando do chão da chapada, sob o inclemente sol de agosto, para tornar-se maternal e acolhedora.





Mas essa história já foi contada e recontada por historiadores, poetas e cronistas de reconhecido brilho. Nada tenho a acrescentar. Falemos, pois, do menino velho que, numa esplendente manhã de maio do ano de 65, foi despejado na Praça Saraiva onde ninguém o esperava. Falemos do sujo das estradas grudado nas retinas e do medo vazando por todos os poros. Falemos da cidade hostil onde mil esfinges gritavam em uníssono: “Decifra-me ou te devoro”. E o menino atônito, indefeso e só, ajoelha-se, no adro da igreja de N. S. das Dores, à espera do golpe fatal que, felizmente, não veio. Em vez do cutelo, a cidade lhe ofereceu colo...





É possível que essa história nunca tenha acontecido; que não passe de “ficção da memória” de alguém que, bêbado de luz e encharcado de bem-querer, tenha perdido a noção do que efetivamente aconteceu e do que poderia ter acontecido. Pouco importa: é preciso que se reinvente incessantemente a própria história para conferir-lhe alguma poesia.





Mas deixemos o menino velho em suas deambulações e falemos, ao sabor das lembranças, de algumas figuras notáveis que deram um perfil e uma identidade a Teresina. Falemos, pois, de: A. Tito Filho, o cronista da “Cidade Amada”, com aquele amor possessivo, quase passional, capaz de inventar, para uso próprio, o verbo teresinar; de D. Avelar Brandão Vilela, o pastor de voz reconhecível que apascentava o rebanho da urbe com a “Oração por um dia feliz”; de Mons. Chaves, responsável pela imponência da Igreja do Amparo, o historiador que deu voz ao povo do Piauí; do Prof. Camilo Filho, a melhor tradução da cidade, com seu sorriso farto e a indeclinável vocação para o diálogo; de mestre Odilon Nunes, silencioso, encurvado sobre alfarrábios, na Casa Anísio Brito, colhendo pérolas que seriam lançadas aos próceres; de Wall Ferraz, o prefeito durão, com vocação para donatário; de Marcílio Flávio de Rangel Farias, o “forasteiro” que, ao descobrir que aqui jorrava água potável das torneiras, fez-se o mais apaixonado dos teresinenses: amava a cidade melhorando-a; de mestre Manoel Luciano, autor da mais bela toada que já se fez para a cidade: “Teresina parece um laço de fita/ ou uma moça bonita /outra igual eu nunca vi/ É a cidade que a gente necessita/ é a sala de visita do Estado do Piauí”. Impossível, em espaço tão curto, falar de todos os que amaram e amam esta cidade, reinventando-a incessantemente.





Esqueçamos, de vez, o menino velho com sua arenga interminável. Passemos a palavra ao poeta Moura Rego, de saudosa memória: “Não quero flor nem brilhante/ Quero carinhos de amante/ Para o mais fino louvor./ A quem já nasceu prendada/ A ti, minha namorada,/ Teresina, meu amor”.





O Gato e o Peixe



Xilogravura em madeira de Ciro Fernandes
foto de Edmar na casa do mestre

OU DEU OU DESSE


1000TON




O consumo de autoajuda e religiões exotéricas está para os anos 80, assim como o interresse pela loucura está para os anos 90. Sim, porque, afinal de contas, como entender esse mundo, tão desestruturado? Voltaremos à barbárie? Socorro Lair Ribeiro !


Nossos nervos estão em pandarecos. Perplexos, indagamos: Onde foi que nós erramos? Nós? Pera aí, cara pálida, será que dessa vez, essa meia dúzia de famiglias azul-sangue-sugas, os megaespeculadores, e os senhores da guerra não capricharam demais na dose de perversidade não?



Caraca! Em 30 anos a porrada foi muito grande! Antes, a globalização neo-liberalizante levou o mundo para a beira do abismo, depois, a crise econômica ejaculou-nos abismo abaixo. Antes, milhões e milhões de desempregados, depois, mais desempregados ainda, aparvalhados, pelo caminho...



E engraçado, a moda pegou...mas livrai-nos do mal, amém... com tantos descaminhados descamizados, os antes executivos de mercado e jogadores da bolha de valores, viraram andarilhos do Caminho de Santiago de Compostela.



Sabe gente, foi mal, preciso conhecer a razão da minha existência, preciso procurar preencher esse o vazio que se faz em meu interior e... E viva ele! O Paulo-tira-coelhinho-da-cartola, o maior vendedor de ilusões do mundo!


Não alimentemos ilusões. Nem a Besta do Apocalipse, nem o Juízo Final, nada disso vai rolar. Quer saber ? Ao contrário de Sodoma e Gomorra, orgias, depravações, bacanais homéricos, sexualidade levada a extremos, a terceira onda vindoura, girará em torno da assexualidade.


Olha, só: todos esses últimos desacontecimentos, esses perrengues todos, foram altamente broxantes! Quando eu falo em broxar, falo de todas as opções sexuais mesmo.


Sim, os ”emos” estão chegando, os “demos” já eram. Pensem em termos de roquenrôu que vocês vão me entender. Para melhor explicar, permito-me fazer, agora, um exercício, não mais de futurologia, mas de perscrutar o passado.



Nos anos 50, a geração que pegou a Segunda Guerra, deu na juventude transviada, James Dean and West Side Story, rebeldia, velocidade máxima, mete o pé no acelerador, roleta russa, viver perigosamente !


A geração jovem, nos anos 60, cansada de guerra, pega pela proa uma nova guerra, a do Vietnã, tendo que suportar a arrogância e estupidez dos caubóis ianques.




Momentos de desconstrução: paz e amor , sexo, drogas e roquenrôu, Kerouac, hippies, meu casaco de general, oh! minha honey baby, psicodelismo, tropicália e baratos afins...




Já chegamos aos anos 70 ? Pô, bicho! Que bad trip foi essa? Acorda amor! Eu tive um pesadelo agora!... A bomba “H” pode explodir no jardim, matar a flor em botão...





Iroshima, meu amor, vai lá fora e compra um sonho pra mim, vai ? Iroshima chega na padaria do seu Manoel português, pede um sonho, e seu Manoel diz pra ela: O sonho, acavou !...





Pessoal, dessa vez o mundo não vai acabar não, ele vai é ficar insuportavelmente chato, sem tesão. Então fica combinado assim: pega na minha mão e vamos todos juntos peregrinar em Santiago de Compostela, que tal ?





Putz! Era melhor o mundo ter acabado mesmo.






keula: fé




Keula Araújo





Tenho uma fé



que desmorona a cada segundo.



Ciclicamente caem:



meu queixo



minhas crenças



meu mundo



Desisto do pouco



Insisto no solo





Mas ando sempre



muito mal acompanhada

Pentágono

Geraldo Borges



Apropriei – me do mundo coroado


Deixei gorar o ovo de Colombo


Digladiei o diálogo encouraçado


E agora sinto o peso do meu tombo.



Quebrei meu elmo caí do cavalo


Sou cavaleiro super – homem no chão


O meu chicote já não mais estalo


Está enferrujado o meu brasão.



Na arena bandeiras desfraldadas


Estão pendidas murchas em farrapos


Já não esgrimo petulantes espadas.



Minhas armas apontadas para o Oriente


Retornam em bumerangues e não escapo


Do passado do futuro e do presente.


BERNADO DE CARVALHO AGUIAR. HERÓI?






Esteve em debate recente na câmara Municipal de Campo Maior proposta de homenagem a Bernardo de Carvalho Aguiar que para o colonialismo é um herói e também para os ainda colonizados intelectualmente. Tal herói é apontado como o fundador de Campo Maior tese defendida por pessoas que se autoproclamam historiadores sem nunca pisarem num curso de história na Universidade.
Sobre ser o fundador tudo bem. Mas, precisa-se ostentar como foi esta fundação. Vejamos: Bernardo era um entradista/bandeirante e para “entrar”, diga-se, invadir as terras dos povos nativos era preciso fazer o que o professor de história (da UFPI) Fonseca Neto põe como “extermínio e subjugação dos povos nativos...” (Cepro, 2004). Nisso as populações eram dizimadas a “ferro e fogo” (Dobal) criancinhas eram transpassadas com espadas e / ou devoradas por cachorros a serviço dos “entradistas”. Pense! Exatamente neste local em que você lê este pode ter sido lugar da prática genocida em favor dos interesses colonialistas a quem Bernardo Aguiar servia. Lá no local de origem dele. A Europa seria o lugar de se botar estátua dele, afinal foi pra lá que ele deu lucro, inclusive (arregimentando) fiéis para a religião oficial do colonialismo.
Agora, cá pra nós que embora tenha-se “olhos azuis” etnologicamente temos sangue Indígena e Africano, ele é herói? Os que acham é porque ainda são colonizados pelo Europeismo. Precisam se reciclar.
Especialistas em história hoje procuram vê/mostrar os “enes” lados dos fatos: cara e coroa. E apontam que quem vê Bernardo como “HERÓI?” só vê o lado da coroa (Portuguesa católica) de então. Isto é, continuar colonizados.
Ainda hoje face ao colonialismo das “cabeças” há quem rotule os nativos de preguiçosos e furtantes. Ora, eles viviam em seus domínios em perfeita harmonia com o meio natural e de repente os Bernardo de Carvalho da vida lhes tomam casa, parentes e tudo, só lhes restando vim tentar readquirir seus domínios/alimentos etc. Daí surge a literatura Europeísta os adjetivando disso e daquilo, ainda reproduzida por leigos portadores de intelecto colonizado. Vê um invasor como herói é reproduzir a imposição do colonizador. Logo, quem assim o faz continua colonizado. O professor JOTA no livro HISTÓRIA DO PIAUÍ (de uso nos vestibulares e faculdades) assevera: “o povoamento do branco foi o despovoamento do nativo” (2003, p.19).
Pe. Cláudio em Primórdios de Nossa História, (UFPI, 1983) faz um monumental trabalho sobre Campo Maior nos tempos de Colônia. Porém quando narra Bernardo (Bernardo de Carvalho, UFPI, 1988) reproduz a visão do colonizador católico ao heroizá-lo. Consta que instalou a fazenda BITOROCARA: uma espécie de quartel-general das intenções de destruição (para não usar outro termo) dos humanos nativos. Na linha do compromisso daqueles tempos o escritor Elmar Carvalho poetisa Bernardo pedestando-o de “El pacificador”??? Talvez com base nos termos de Cláudio Melo.
O “Europeísmo” tinha como pilar evidenciar só a história “oficial” de um lado. No caso a do vencedor/invasor/colonizador. Padre Cláudio vem daí e El Pacificador também já H. Dobal não se autocolonizou-se quando litera João do Rego Castelo Branco — O El matador.
A história é uma ciência social não uma narrativa de endeusar/endiabar quem quer que seja. Grupo história(s).

FONTE: 180ºgraus.com/coluna campo maior. Acesso em 15/11/07.
__________________________________
O pessoal de Campo Maior mandou esse manifesto por ter me manifestado contra o Bernado matador de nós. Nota do grupo:
"Olá Edmar Oliveira, nós estamos enviado esse artigo sobre história(sem ser a história dos grandes) vimos seu comentário recente no Bitorocara e informamos que a historia nossa é pra ver as coisas com olhos mais locais , não aquela história pra boi dormir, diga-se: PRA POVO DORMIR. A nossa sugestão é p/ vc divulgar esse pequeno artigo no piauinauta, caso lhe seja coveniente.
O GH é uma confratenidade filosófica de graduandos/ graduados em história."

Pássara





Maria Helena Fernandes




O que me prende
São as asas
O que me liberta
É a paixão

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Maria Helena Fernandes (Lele) é parceira de Climério. Espero mais versos dela neste espaço sideral...

Teresina, Bêbada Blues

caro piauinauta
mando uns versos em homenagem a teresina.

você poderia me fornecer o e-mail do durvalino. mantinhamos contato há um tempo atrás, mas nos desencontramos.

agradeço
cordialmente
Ranieri Ribas

TERESINA, BÊBEDA BLUES

Teresina
Por que me deste esta herança?
Vila da paz, Irmã Dulce, Itararé
Poty Velho, Monte Castelo e Santa-Fé.
Por que me deste?
Esta luz infusa e ferina
E o crepúsculo em ti escarlatina
Teresina, assim cega de sol.

Tristeresina, “cidade verde”.
Tens as pupilas baldias
és cinza e celeste azulíssima
grisazul, sem mar nem brisa
és uma estufa abafadiça
sombra, suor e preguiça.

eu sei, Teresina.
Nada ainda te resigna:
Queres alcançar o mar,
Mercadejar buganvílias
Semear edifícios, eucaliptos
Queres do boi a autoria
Resfriar seu clima em quinze centígrados.

Mas estás em sesta eterna.
Ao meio-dia, suas ruas entoam elegias
Ouvimos o ranger das redes em que cochilas

Teresina, imperatriz do tédio
A madrugada nos convida
por mil cabarés serás invadida
Serás dos homens cafetina.
Oh, Teresa Cristina
E juntos ergueremos um busto a Beth Cuzcuz.
Não recuse.
Um busto a musa em praça pública.
Eu direi: raimundinha, meia-nove, mói-de-vara
socorrona, ronya, roxa,
rancho e o que valha.

E quando o sol nascer
seu amanhecer de ressaca, Teresina
uma panelada no mercado da Piçarra.

Teresina, vês:
Programas de TV
socialytes e viados
apresentadores debochados
Playboys obesos.



Teresina
Você sabe com quem está falando?
Um velho barrigudo com Hilux e tudo
Filho do prefeito do cu-do-mundo
primo do desembargador
serás eternamente esta merda,
terra de rastaqüeras?

Teresina,
Dançávamos reggae na Tabuleta
Mangueirão com Senzala
Eras o reggaeiro mala
Dançávamos canivete e bala
Levados ao embalo da morte.
E morreste.

Teresina
de tudo isso herdaste apenas
a fedentina, a micarina, a fuleragem e a estupidez.
Estás obesa, tens as veias entupidas de carros e buzinas.
Seus rios serão rios de cerveja e urina.

Teresina
sou um homem branco, cabelo liso.
Trate-me bem!
tenho um carro do ano, pose de rico.
mas, há sempre alguém
querendo alguma sinecura.
Teresina. Eu darei.
Serei empregado público concursado, eleito, engravatado, deputado, tributável, bacharel.
Carro financiado, direi que todo mundo é viado!
Artista, bêbado, menestrel

Teresina
Sesmaria entre o Poty e o Parnaíba
Não parirás outras raparigas
como as catirobas do itararé.
Cunhã, catreva, vadia, gato-réi
cabelo na prancha e piercing reluzente
buscando caras brancos com cara de zona leste
carro rebaixado, som alto, forró e Chiclete.

Teresina sua sina assim me deste:
Algazarras no sábado, cerveja gelada e cigarro US
Transcol, sol escaldante, parada lotada
Ambulantes e coquetes.
Serás sempre esta capitania
Península, encabulada,
insulada do mundo, servil e acaboclada
Filha bastarda de Conselheiro Saraiva
Subjugada por coronéis?

Teresa Cristina
estas ruas sem árvore nem vida
em setembro
as costelas secas do Parnaíba
exibem suas coroas ressequidas
areia, ferro e ruínas

Teresa Cristina
Imperatriz rediviva
Viverás para sempre esta tertúlia infinita
Para aplacar o tédio que a tantaliza?

Teresina: “seja bem-vindo”.
motéis a dez reais.

Mandarina longínqua
Teresa prístina
sua história é uma porta de saída
não olharás para trás.
Serás, cruel, maligna, destrutiva
Em cada casa demolida
Fingindo não ser mera província
Nordestina Miami mínima
Futuríssima Teresina
cidade sem caráter.

_______________

publico como recebi. Durvalino entra em contato com o Ranieri. O blog pode ser usado para isso. Deixe recado nos comentários.

Ouvindo Vozes

Geraldo Borges


para Edmar Oliveira


*

Ora direis ouvir vozes certo


Perdeste o senso. Eu vos direis no entanto


Que para ouvi-las às vezes fico quieto


Sozinho me escutando no meu canto.


*

E conversamos toda a noite enquanto


A via láctea pirilampa pelo firmamento


Isso me deixa perplexo cheio de espanto


Até que as vozes se dispersam ao vento.


*

Direis agora meu tresloucado amigo


Que traduzem estas vozes que sentido


Elas transportam quando estão contigo.


*

Eu vos direi amai para entendê-las


Pois só quem ama pode ter ouvido


Capaz de ouvir vozes e escrevê-las.



Ouvindo Vozes (ainda)



O Piauinauta recebe a visita do Dr. Castanho (Stênio Garcia) de "Caminho das Indias". Imagens de Moisés em 19/08.


Para comprar o livro: http://www.vieiralent.com.br/


quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Piauinauta no por do sol


O sol se põe em Timon ali por trás da ponte metálica e o Piauinauta contempla a paisagem. E essa edição é só de propaganda do livro que o Piauinauta arremete da ponte no rio. E o Cabeça de Cuia está "Ouvindo Vozes"...

Convite para lançamento: Ouvindo Vozes






Termo de Intimação

Venho, através do presente termo, intimar V. Sa. a comparecer à Livraria da Travessa de Ipanema, dia 19 de agosto, a partir das 19 horas, para ser testemunha de algumas vozes por mim ouvidas. A sua presença será indispensável para confirmar que não se trata de um delírio, mas de um sonho que aconteceu.
Atenciosamente e agradecendo,
Edmar


Vejam 3 vídeos no Book Trailers (são vídeos diferentes, apesar do começo igual)

Click aqui:




19 DE AGOSTO a partir das 19 horas

Livraria da Travessa

Rua Visconde de Pirajá, 572, Ipanema

A Voz que Ouço



OUÇO A VOZ DE EDMAR


Não busco a coerência do mundo

Observo, maravilhado, as contradições
A se entrecruzarem ilogicamente

Que cada um pegue um ponto da teia
E arme a arapuca dos seus dias

Não tentem pescar-me neste enredo
Eu me prendo em minha própria armadilha

Ao ouvir a voz de Edmar
Vi que a vida pode ganhar plano de vôo


(Climério Ferreira)
_____
Alguem aí tem um poema desses assim? Envaidecido eu, neste comercial. Grato, Climério!

O Mistério do Tempo



Edmar Oliveira

Sabe daqueles dias que você fica em dúvida se teve uma idéia genial ou idiota? Tive um dia desses. Ou melhor, uma noite. Foi insone que esta idéia assustadora me veio à cabeça. Não ousei comentá-la com ninguém por muito tempo, até que numa mesa de bar, falando dela, meio sem graça, achei um parceiro que acreditava na idéia que tive. Pior, veio nele com as mesmas características da minha. E nem mesmo concordando, conversando muito sobre ela, deixamos de ter a sensação se aquela idéia - agora pelo menos comum de dois - era genial ou idiota. Nem mesmo consumindo bastante álcool, que é um veículo transformador de falsos argumentos em verdades absolutas. Continuamos na dúvida.




Vou enrolar um pouco antes de revelá-la, para evitar que você me ache um perfeito idiota e suspenda a leitura assustado. Na verdade, eu quero é a possibilidade de ter um terceiro ou quarto membro comum na dúvida, para que esta idéia possa circular mais um pouco e não seja destruída precocemente. E tenho minhas razões.




Me lembro, agora, que nas minhas aulas de catecismo, quando duvidei que Matusalém tivesse vivido quatrocentos anos, o padre argumentou com a relatividade do calendário para não desmentir as sagradas escrituras. Segundo o padre Anselmo, naquela época, o ano poderia ter menos dias que o ano juliano atual. Achei a explicação meio “Mandrake”, mas considerei que o padre tinha que defender sua crença e seu emprego de forma muito firme. Naquele momento, firmei a convicção que para ter fé era necessário inventar explicações para vários fatos contraditórios no livro santo. Minha fé foi se desmanchando entre fornecer a outra face para o agressor no novo testamento ou “o dente por dente” do livro antigo. Eu nunca tive tanta fé que me fizesse ir inventando argumentos ao sabor de histórias inverossímeis de Daniel na toca dos leões, dos sonhos adivinhatórios de José do Egito - que certamente explicariam os palpites do jogo do bicho - ou de andar sobre as águas, que no outro livro foram divididas ao meio por Moisés. Por vários destes exemplos - até os delírios expressos no Apocalipse - achei a história dos judeus inconciliável com os adeptos do Cristo. Mas isto já são outros quinhentos, como gosta de argumentar um contador de histórias, para com a mesma história fabricar outras. Mas porque fui me lembrar agora do argumento do velho padre Anselmo?




Porque acho que ele chegou perto da explicação, pois a idéia que me intrigava no presente já podia ter ocorrido no passado. Se ele concordasse com a minha idéia agora diria a frase que corrige os erros dos que tem fé: Deus escreve certo por linhas tortas...




Muito se tem louvado a ciência para a longevidade dos seres humanos. Antigamente quem tinha cinqüenta anos já estava velho. Terceira idade nem existia. Ela foi inventada agora porque a quantidade de pessoas com mais de sessenta e cinco aumentou assustadoramente, inclusive ameaçando de falência os regimes previdenciários. E estes senhores de sessenta e poucos (ou muitos) estão aparentando mais jovialidade que os cinqüentões de outrora.




Pois bem, se cada dia corresponde à rotação da terra em torno de si própria e o ano corresponde à volta completa da Terra em torno do Sol, quem não me garante que estas velocidades estão aumentando? E em vez da humanidade estar vivendo mais, não seria a rapidez da passagem do dia que relativamente aumentasse a idade dos mortais? Estou convencido que de um tempo pra cá os anos estão diminuindo de tamanho. Este ano, que começou agorinha, já embalou sua rotação e daqui a pouco já é Natal, quando nem acabamos de festejar o São João. Desconfio que Antônio, Pedro e João, já, já, são santos que acontecerão no mesmo dia...




Se a maioria das pessoas começar a rir, chegando até aqui, pode ajudar a destruir esta idéia, antes que ela se cristalize como delírio. É que eu já estou caminhando, a passos largos, rumo aos sessenta e fico torcendo para ir vivendo, nem que ao preço de encurtar a relatividade do dia. Pode ser que o tempo vá encurtando só pra quem vai ficando mais velho, pelo medo de chegar aonde não quer. Mas que o tempo é um mistério, lá isto é verdade...

Linguajar

Ana Cecília Salis

Os cinco filhos de meu pai
falam duas linguas...
a minha segunda é a poesia.

Cheguei de Minas: Maria Fumaça



Clímério Ferreira




A Maria Fumaça
Avança vagarosamente
Sábia e zen
Para São João Del Rei

A paisagem não tem pressa
E passa em câmara lenta na janela
Pontilhando a visão de vacas leiteiras
Que dormem na beira dos córregos

Surgem os primeiros casarios
Testemunhos envelhecidos do tempo
Alertando nosso sonolento olhar
Para os telhados impregnados de história

São João Del Rei se impõe
Imponente e bela, brilhando ao longe
Com alguns edifícios modernos
Denunciando sua inevitável transformação

A brisa que sopra da janela
Tão suave quanto a marcha do velho trem
Deve ser a mesma que acariciou
Anos atrás a face dos inconfidentes

o retrato e a moldura

Geraldo Borges

Eu me vejo pintado na janela
Um retrato vivo olhando a rua
Uma moça passa na passarela
Está desfilando e se insinua.

Ela quer pegar o meu retrato
Pra me colocar em sua moldura
Mas o meu quadro é um abstrato
Sonho de um poeta uma pintura.

Vou ter de fugir rapidamente
De sua sanha de colecionadora
Desbotar-me e ficar quase sem cor.

Foi o que fiz então exatamente
E fiquei olhando-a ir se embora
Tendo nos lábios um riso de rancor.

aeroporto de Teresina



Paulo Tabatinga




Envidraçaram o saguão do aeroporto


prendendo a ingenuidade do adeus

ADEUS AS PRETINHAS







Geraldo Borges







Na minha cidade existe uma oficina de um japonês especializada em consertar maquina de datilografia. Passei por lá cinco anos atrás e pensei que ela fosse falir. Como tenho uma velha máquina Olivette lettera 22 levei-a a sua oficina para que ele fizesse uma limpeza e ajustasse as teclas, os tipos, lubrificasse, mudasse a fita. Deixando-a no ponto para que eu pudesse escrever as minhas crônicas. Fez o orçamento, disse o preço. Tudo bem. Pode fazer o serviço.




Uma semana depois ele me telefonou para receber a máquina Estava boa, funcionando..




Alguns anos depois tive de retornar lá. Fiquei pensando. Será se ainda se encontra no mesmo lugar? Saí de casa com minha máquina correndo o risco de não encontrar mais o velho japonês, que tem mais de setenta anos e pinta o cabelo, e até parece jovem. Passei na porta do antigo endereço que eu tinha e para surpresa minha lá estava o japonês ainda instalado no mesmo local. Atendeu-me solicito, com o sorriso de japonês. Eu mostrei-lhe a velha máquina que já conhecia, e disse-lhe que precisava novamente de uma limpeza.




Enquanto fazia o orçamento fiquei olhando sua oficina e vi que,em sua loja,ele vendia alguns artigos de papelaria, que, sem duvida, ajudavam em sua receita doméstica. Falou-me que outras pessoas apareciam ali para mandar consertar maquinas de datilografia. Isto me fez lembrar um ex vizinho, que morava em Teresina, e que também consertava máquinas de datilografia , com este serviço sustentava a sua família. Apareceu o computador, não sei como ele se virou.. Talvez tenha estudado informática. Lembrei me, também, de um velho amigo, já falecido, que tinha tudo a ver com maquina de datilografia, o jornalista Jarí Mosil. Antes de dizer adeus ao mundo me falou que estava escrevendo um livro com o titulo - Adeus as pretinhas. Pedi que me explicasse o titulo. Disse que estava escrevendo a história das maquinas de escrever nas redações dos jornais no Piauí, e sua substituição pelos computadores.




Tenho duas maquinas: uma Olivette e a outra baby. Estou mais acostumado com a Olivette. Enquanto o japonês existir e tiver condições de ajustá-la eu vou me valendo com elas no meu oficio de escritor. Na verdade, o meu primeiro instrumento, que usei para escrever foi o lápis, que nunca abandonei. Com o lápis faço o rascunho. Depois passo o manuscrito para a máquina, vou acrescentando ou tirando alguma coisa. Geralmente tiro mais do que acrescento, se bem que gosto de uma redundância.




De modo que elaboro o meu texto em três etapas. Primo a lápis, depois a máquina, e, por fim, o computador. Sou um ginasta triatlo. Quem disse que um escritor não é um atleta? Embora nem sempre tenha a mente sã e o corpo sarado. Alguém poderá dizer que isto é perda de tempo. Perda de tempo é conversa fiada. Prefiro continuar com as três modalidades. Cada qual colabora uma com a outra. No manuscrito sinto a textura do papel branco, a nitidez do grafite, a atenção para pingar os is e cortar os tês, não esquecer as cedilhas, caprichar na caligrafia, que também é uma arte, sinto-me como se fosse um pintor me lambuzando com as tintas. Teclando nas pretinhas ouço a sonoridade que relembra as velhas redações onde o meu amigo Alberone Lemos educou-se como jornalista. E no computador, como não estou ainda bem acostumado, fica para depois a avaliação da minha experiência, o que posso acrescentar é que os seus recursos são infinitos, e, às vezes, se mete onde não é chamado. Em certos casos tem a petulância de pensar primeiro do que eu e se adiantar corrigindo o meu texto.




Por enquanto prefiro continuar com o meu método triunvirato, escrevendo devagar, sem muita afobação, para um leitor apressado, que por isso mesmo talvez não consiga enxergar as entrelinhas do texto com suas costuras. Rezo para que o japonês continue no seu endereço com sua oficina por mais tempo, atendendo os dinossauros da era moderna, assim enquanto mais eu demorar dizer adeus as pretinhas melhor.

NUN-SE-PODE

1000TON



Dia desses, saindo da casa de um velho amigo, em Vila Isabel... ela estava desaparecida há tanto tempo...me esbarro com Lindonéia. Estremeci. Ainda não refeito da surpresa, tentei entabular um papo, ôi, que bom te ver, bela, estavas sumida... e ela me socorreu: é, eu dei um tempo, sabe? Depois da morte do Guerchman eu fiquei meio recolhida mesmo. Sei lá, os pés-sujos estão sumindo, a boemia tá meio devagar, a Lapa, By Tv Globo, é zen-graça. Ah! E depois você acha um boteco legal, e a tv ligada no Jornal Nacional? É um desreispeito, né?
Cara, bom te ver também, ela pega na minha mão e fala que vai me levar num cantinho legal, logo ali na Praça 7, e eu, com meus botões, não acredito nisso, acontecendo comigo agora...
O estabelecimento era muito simpático, acolhedor, e por que você escolheu esse lugar? Ela aponta: dá uma olhadinha praquele canto da parede. Cáspite! Deparei-me com um exemplar autêntico do mestre Milton Bravo (e pai), ainda num bom estado de conservação. A data não dava pra ver direito, mas estava lá escrito o número do telefone com 6 algarismos.
Você vai beber alguma coisa? Ela ficou olhando para uma prateleira de vidro ensebado, debaixo de um São Jorge, com luz roxa, flores de plástico, o pequenino cálice com a bebidinha do santo e tudo: Eu vou tomar uma cachacinha. Qual? Peraí, ainda estou decidindo, e levantou-se para melhor escolher sua marvada, numa grande fileira de opções.
Cachaça da boa, dando uma de entendida, pode conferir, a gente escolhe pelo rótulo. Como assim? Ah! Não sei explicar direito... Aquele que, quase sempre, tem um engenho desenhado, bem naif, com letras de tipos misturados, tem letras art déco, tem uns que até lembram obras do Rubens Gerchman. Não tem erro...
Eu achei muita graça naquilo, sentou-se, pediu sua dose da marca escolhida e eu fui na dela, pedi igual. Realmente a diaba era muito boa mesmo.
Lindonéia, naquele quadrespelho do Guerchman você está um pouco diferente, né? Ela riu e falou: aquela não sou eu não. É minha irmã mais velha. O Hélio Oiticica apresentou ela pro Rubens, num baile da Mangueira. O nome dela é Dulcinéia, aí a obra foi feita, mas o Rubens achou o meu nome mais bonito e botou no quadro. Aliás eu acho essa obra o máximo. Tem muita coisa de Nelson Rodrigues, que, como ninguém, entendeu toda a hermenêutica do subúrbio. É verdade...Ficamos conversando sobre arte popular, contracultura, Tropicália, e, em dado momento ela mandou:
Sabe, eu acho que o homem brasileiro, quer dizer, a nossa gloriosa raça mistureba, é um amalgamado assim: entra o homem cordial do Sérgio Buarque de Holanda, mais o Macunaíma do Mário de Andrade e o João Grilo do Suassuna. Perguntei se a gente não podia engrossar essa porra, digo essa geléia-esperma-geral brasileira com o Sepé Tiarajú, o nosso índio guarani, o Manuelzão do Guimarães Rosa, o Zumbi dos Palmares, quem mais? Xõ vê...Ah! O Jeca Tatu, do Monteiro Lobato... e ela, já meio alegrinha: Jecatatu, cotia não! E soltamos risadas, e brindamos, orgulhosos dos nossos genealógicos eleitos.
Daí a pouco, me batendo no braço: vou ali no toalete e já volto. No caminho gritou o nome do gerente, pediu uma chave, dizendo ser duma salinha dos fundos e fiquei aguardando.
De repente, Cascatinha e Inhana, em “Meu Primeiro Amor”, escorre pelo ambiente. Linda está voltando e avisa: vamos continuar a prosa que tem mais. Fiquei assaz curioso. O papo foi conduzido para a nossa MPB. Agora “Índia”, com a mesma dupla, fremia no ar.
O tempo indo ligeirinho, nosso lero-lero com calientes boleros. Faz-se hora, vamos nessa? Ela propôs, quando já terminava a série musical com a Ângela Maria.
Na saída, Lindonéia pegou seu batom e desenhou um nariz de palhaço, num Guevara, pintado na parede do corredor de passagem. O gerente grita: Pô, Linda! Vou ter que tirar essa mancha aí de novo? Respeita o nosso camarada! E ela: Calma! Hay que endurecer, sin perder la ternura, el humor e el tesón!...Deu uma gargalhada e foi saindo na frente.
Quase na porta, olhei pra trás pra dar mais uma olhada no Milton Bravo e, quando me volto para a rua, Lindonéia, cadê? Senti um arrepio e um cheirinho de enxofre no ar que foi sumindo, sumindo, e eu olhando prum lado, olhando pro outro, olhei pra baixo e vi um lencinho violeta bordadinho, caído no chão.
Peguei e senti um cheiro inconfundível: COLÔNIA ROYAL BRIAR.

poeminha

Paulo José Cunha





os amores fecham


(como os bares)


depois reabrem


sob nova direção

Suicídios Exemplares




Luíz Horácio






A velhice é muito mais cruel que a morte, a velhice não se rende a eufemismos, venham das plástica, dos tratamentos ortomoleculares ou das pílulas milagrosas. Nada impede o tempo de cometer seus estragos. Você, jovem leitor, conhece alguém que antecipou a própria velhice? Mas a morte sim. Com certeza conheceu ou sabe de alguém que tenha cometido suicídio. Pois é, a velhice não pode ser mexida, mas a morte pode. Os índios do Alto Solimões sabem disso e são adeptos da prática. Ano passado a taxa de suicídios deles superou em quase dez vezes a média nacional. Falta de perspectivas profissionais dizem os antropólogos. Repararam que sempre tem um antropólogo e um cientista social à mão, para palpitar? Aqui não.
A morte como matéria prima da arte não é novidade. A vida como matéria prima da morte, tampouco. A falta de talento e coragem para acabar com a própria vida é coisa de cada um, examinar a aproximação inevitável da morte é um problema assustador - vamos mudar de assunto -, o que dirá a possibilidade de urdir um plano para colocar o ponto final em sua vida, que tal, jovem leitor aspirante a imortalidade? Escolher a tática e botar o time em campo para um jogo decidido. O suicida é ator de um único papel, protagonista de uma cena, uma e não se fala mais nisso. Sempre impactante, atrai as atenções, longe dele os lugares comuns. Viver com idéia do suicídio a povoar pensamentos é coisa pra obcecado nenhum botar defeito. Levar essa idéia a cabo é outra história. Algumas amostras desses indivíduos podem ser examinadas em Suicídios exemplares, livro de contos de Enrique Vila-Matas.
O leitor encontrará dez contos tendo como tema comum o suicídio. Aparentemente trata-se de um samba de uma nota só, mas ao aguçar o ouvido se poderá perceber que não é bem isso. Trata-se de composição que exigirá alguns conhecimentos literários e paciência ao leitor. O autor anuncia suicídios, usa essa introdução em todas partituras, no entanto desenvolve temas dos mais variados, do tédio de uma vida sem acidentes a tentativas quase desesperadas de inventar outras vidas. Citações de Moby Dick, Walter Bernjamin, Sêneca, Mario de Sá-Carneiro fazem parte do trabalho desse autor. A famosa, agora na ordem do dia, intertextualidade. Não conta com minha simpatia, se contar com a sua, caro leitor, tanto melhor.
Vila-Matas produziu histórias que flertam com o surrealismo, com o realismo, não esquecem o romantismo tampouco o existencialismo Sartriano. Não há pessimismo tampouco auto-ajuda, viver está longe de ser um navegar no mar de águas límpidas, mas também não é festa a ser abandonado tão logo se chegue.
É, acima de tudo, uma enorme possibilidade de rir. Rir das peças repetitivas que a vida não cansa de aplicar. Os personagens de Vila-Matas tem preferência pelas situações extremas, lembram do escrivão Bartleby, de Bartleby e companhia, acometido de uma paralisia que o impede de realizar qualquer tarefa? Em O mal de Montano o leitor encontrará a doença literária, autores que transformam a própria vida em literatura. Em A viagem vertical, Federico Mayol vive o desespero desde que ouviu de sua mulher o quanto ela ficaria satisfeita caso ele fosse embora. Uma noite antes tinham comemorado suas bodas de ouro.
Morte por saudade é o título do conto que abre o livro, nele um professor de redação coloca o aluno no rastro de suicídios de uma família. É o aspecto meta literário que está prestes a virar eficiente e sonolento predador das letras. Vale lembrar que o escrivão Bartleby é criatura de Herman Melville. Feito o lembrete, sigamos.
Um tio mata seu melhor amigo durante uma caçada. Desesperado interna-se num hospital fingindo-se doente, rouba uma forte dose de cianureto e com ela se mata. Uma tia abre o gás e também se mata. Deixa uma carta onde confessa que a impossibilidade de frear o desejo de viver era a causa direta de seu suicídio. A filha dessa tia se joga, numa exibição primorosa do salto triplo, do alto de uma torre. Sem rede de proteção, cabe informar. O asfalto acolheu suas angústias.
E o aluno resignado diz: Vou me sentar para esperar, haverá uma cadeira para mim nesta cidade, e nela poderei ver todos os entardeceres, calado, praticando a saudade, o olhar fixo na linha do horizonte, esperando a morte que já se desenha em meus olhos, e que aguardarei, sério e calado, todo o tempo que for necessário, sentado diante deste infinito azul de Lisboa, sabendo que à morte lhe cai bem a tristeza leve de uma severa espera.
Esse personagem traduz a tônica desses contos de Vila-Matas, o enigma; como matar a sede de viver?
E a saudade que perpassa o conto de abertura se mostra já no conto seguinte, Em busca do parceiro eletrizante. Ator decadente busca companheiro na tentativa de voltar aos tempos áureos. A saudade movimentando vidas, a saudade impulsionando ao futuro. “Porque eu, meu querido amigo Brandy, tenho uma grande reserva natural de riso, e rio sempre a todas as horas e, quanto mais desgraçado sou, mais rio. E riu. Se já não tivesse morrido, teria morrido ali mesmo de tanto rir.”
Vila-Matas é o contra ponto de Louis- Ferdinand Céline, experimente a novela Mort à crédit (1936), e depois me diga se existe outro olhar tão deprimente e negativo. Perceberá que em nome da sobrevivência vale tudo, todos os métodos são aceitos; mentira, corrupção, crimes. Em Vila-Matas temos o inusitado, o cômico, o patético, jamais o depressivo.
Não, paciente leitor, não é nada fácil extrair a nostalgia, o pessimismo, a melancolia, o vazio, da saudade, como bem faz Vila -Matas, e transformá-la em motor do otimismo. Afirmo isso do alto de minha montanha de saudade que só me faz entristecer, minha saudade me derruba num nocaute repleto de déja vu , desde a primeira vez em que amei de forma equivocada. E assim me repeti, amando, pessoas, coisas, profissões... A saudade sempre dói. Em Suicídios exemplares, ela salva. Posso afirmar que o flerte com o suicídio pode ser uma porta de entrada para uma vida nova. Condição sine qua non: alguém lhe dar a mão. É possível inventar um destino com poesia.
Em Rosa Schwarzer volta à vida o leitor pode notar que a monotonia da vida de Rosa Schwarzer, funcionária de um museu em Düsseldorf, ela já vive entre mortos, faz com que imagine diversas formas de se matar, haraquiri, tomar alguns goles de água sanitária, se jogar na frente de um carro. “- O que vai ter para o jantar? -perguntou do sofá um exigente Bernd. - A morte - ela disse. - Apenas a morte. Disse isso tão baixo, da solidão da sua cozinha, que eles não podiam escutar que naquele momento era degolada uma galinha.”
Certa manhã, entre bocejos, sente o perfume de sedução que chega vindo do quadro O príncipe negro de Paul Klee. O príncipe a convida a entrar e se perder na tela rumo ao recanto mais cruel que se possa imaginar, o país dos suicidas. Rosa Schwarzer, resiste ao chamado, desvia o olhar que descansa em outro quadro de Klee, o de tênues cores rosadas Monsieur Perlacerdo. Rosa completara cinqüenta anos no dia anterior, tem marido e dois filhos e uma questão: “Esta vida para quê?”
Rosa retoma sua rotina no museu, sabe que “a felicidade mata, e esses suicidas imitam não o inimitável, mas o inexistente.”
O conto O colecionador de tempestades traz o único suicida que consegue morrer. Preparava uma engenhoca capaz de provocar uma tempestade de onde um raio o encontraria deitado numa tumba vazia e o fulminaria.
No instante em que se preparava para acionar o invento sofreu um ataque do coração.
“Contou-me então como algumas múmias egípcias mostram sintomas de pneumonia e outras formas de resfriado.
-Seria engraçado - comentou - que depois de tantos preparativos para viver um bel morir, um simples resfriado me tirasse a vida.”
Os suicidas de Vila-Matas , ora risíveis, ora melancólicos, nunca trágicos, não alcançam seus objetivos, se covardes ou valentes, cada um que faça seu juízo embora não lhes caibam tais rótulos, meros personagens, meros retratos de nossos fracassos. Viver é muito mais que assimilar rotinas, por mais saborosas que sejam, é criar, é se reinventar, mesmo que, como os personagens de Suicídios exemplares, para isso se faça necessário um breve namoro com a morte.
No apagar das luzes meu papagaio falou Mia Couto, o grande imitador de Guimarães Rosa, e me veio o trecho que estava faltando. Se Mia pode, sem citar o original, eu, humildemente, também posso.
“O senhor...Mire veja: o mais importante e bonito , do mundo , é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando.”

TRECHO

Escrevo para você com a esperança de que se atire logo da janela de sua casa. Esta é - eu acho - a única frase que deveria ter me escrito, querida, deveria ter se atrevido a ser sincera, e em vez de me perguntar como passei no manicômio ou de me enviar essas frases feitas forçadas junto com suas afetadas condolências pela morte de Mário e todas essas palavras cínicas de apoio, em vez de tudo isso, deveria ter escrito para mim: “ Gostaria que se suicidasse logo, Mary, gostaria de vê-la morta, e se isso não for possível, gostaria de vê-la completamente louca e enterrada para sempre nesse manicômio do qual conseguiu sair não sei como.”
Em vez disso, me escreve frases convencionais e hipócritas. Diz para mim: “Perdão por ter demorado tanto em saber da morte de Mário e de seus problemas psiquiátricos.” Perdoo, querida, porque morando tão longe, do outro lado do oceano ( e dizem que certamente encharcada de rum), nessa casa horrível de Havana Velha, não surpreende que você tenha demorado a saber da história de minha loucura e a se regozijar com ela. “Você deve ter ficado tão sozinha com a morte de Mário....” Mas, minha querida vizinha má, como você queria que eu ficasse?



AUTOR

Enrique Vila-Matas, Barcelona (1948) , estreou na ficção em 1973 e, desde então teve romances e contos publicados em vários países. Em 2001 ganhou o prêmio Rómulo Gallegos, o mais importante entre os países hispano-americanos, com A viagem vertical e se transformou num dos principais escritores contemporâneos.
Vila-Matas é considerado um autor cult , um escritor de escritores.
Do autor a Cosacnaify já publicou A viagem vertical (2004) ,Bartleby e companhia (2004), O mal de Montano (2005), e Paris não tem fim (2007)

prêmio




Chico Salles e Ciro Fernandes ganharam o Prêmio da Academia Brasileira de Letras, deste ano, na categoria Literatura Infanto-Juvenil por "Cordelinho".



Prefácio de José Nêumanne
O primeiro impacto produzido por esta edição da Rovelle é a beleza esplendorosa que salta aos olhos na capa e na contracapa. E também habita cada página do livro. Esta beleza nasce da consciência do poder encantatório da palavra que tem o autor, o múltiplo artista paraibano Chico Salles. Compositor e intérprete musical, além de poeta do improviso, ele tem a noção exata deste poder na dimensão oral da língua dos violeiros nordestinos, dos mestres do improviso da poesia sulina e da carga de sedução dos diversos sotaques regionais que em nada alteram a beleza nada inculta da última flor do Lácio, que Camões inventou e Eça, Pessoa, Machado, Bandeira, Drummond e tantos outros têm aperfeiçoado ao longo dos tempos. À intimidade com a palavra dita Chico soma a familiaridade com o verbo escrito. E o gênero literário que mais aproxima a linguagem falada dos códigos impressos é o cordel, romanceiro popular que se aproveita das facilidades mnemônicas da poética cantada para, com os versos impressos em papel, tornar-se poesia de bancada. Mestres desta arte, como outro sertanejo paraibano (de Pombal), Leandro Gomes de Barros, homenageado neste Cordelinho, já fizeram isto antes muitas vezes, contando aventuras, romances de amor e causos de graça (publicáveis ou fesceninos). A novidade deste livro é que o cordel tem sido pródigo em gestas e romanceiros, mas não no mesmo grau em literatura infanto-juvenil: é aí que Chico inova recontando velhas histórias tradicionais de bichos de domínio público, algumas das quais ele deve ter ouvido na infância em Souza, no mesmo Vale do Rio do Peixe onde nascemos Ciro Fernandes e eu. E falar do xilogravador Ciro de Uiraúna, que ilustra este livro, é tratar da extraordinária beleza visual deste volume. Ex-pintor de paredes na periferia de São Paulo e, depois, “artefinalista” de agências de publicidade no Rio de Janeiro, este meu conterrâneo tornou-se um dos mais inspirados artistas neste gênero plástico popular do Brasil, muito utilizado nas capas dos folhetos, quase sempre feitas pelos autores, desde que aprendeu sua técnica com outro paraibano, Zé Altino. A barata e o tigre, protagonistas dos romances de Chico Salles, ganham vida nos seus versos. E cor, brilho e beleza também nas extraordinárias e marcantes ilustrações de Ciro de Uiraúna, senhor de um estilo único e privilegiado, que marca estas páginas como sinuosos desenhos em ferro em brasa deixavam nas pernas dos rebanhos de nossos ancestrais signos que identificavam seus proprietários. Chico Salles e Ciro Fernandes introduzem com este Cordelinho as crianças do Brasil no universo encantado dos romances de Pavão Misterioso, Generosa, Cego Aderaldo, Camonge, Bocage, Zé Pretinho e Inácio da Catingueira. E devolvem a todos nós retalhos coloridos de uma infância que nunca será perdida.

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José Nêumanne, jornalista, poeta e escritor, é comentarista dos jornais da Rádio Jovem Pan e do SBT, editorialista do Jornal da Tarde e autor do romance O silêncio do delator, prêmio Senador José Ermírio de Moraes, da Academia Brasileira de Letras, em 2005, pelo melhor livro de 2004.





Juarez Montenegro

Desafio


Você, mulher, a ninfa da beleza,
a musa dos poetas inspirados,
o sentido maior da sutileza,
sintomia de todos os cuidados,

seja, também, suporte na fraqueza...
Há homens que se passam por coitados –
sem gosto, não degustam da lindeza;
sem faro, são felinos condenados!

Então, se és a Dama das Camélias,
se tens os atributos das Amélias,
por que não ser estima para o brio?

Não lhe peço o calor da labareda,
nem a tenuidade duma seda,
mas acendalhas para o tempo frio!...

ouvindo vozes