sábado, 8 de dezembro de 2007

O ENÍGMA DA ESFINGE

Edmar Oliveira

Deu no “New York Times”: a empresa islandesa Decode Genetics, especializada na decodificação do genoma humano, anunciou o lançamento de um serviço chamado deCODEme” (algo como decodifique-me), que promete apresentar o genoma completo do cliente, bastando, para isso, uma amostra de células da parte interior da boca e um cheque de 985 dólares. De volta você recebe um mapa, anunciando prováveis doenças, características físicas como cor de cabelo e olhos, para uso próprio ou de seus descendentes. E ainda ganha de brinde um estudo dos antepassados para você saber o porquê do comportamento daquela tia esquisita ou porque seu avô não durou mais tempo no planeta, se tivesse sabido da futura causa de sua morte.
O mais impressionante no anúncio do produto é que ele não é destinado a serviços de saúde, mas ao consumidor em geral. Ou seja, assim como você pode fazer seu mapa astral, pode agora ter em mãos seu mapa de decodificação genética. Você passa a ser um feliz proprietário do seu futuro e de seus descendentes. Na compra de um “deCODEme” você ganha a possibilidade de um futuro planejado. Se você tem propensão a um câncer de próstata aos sessenta anos, porque não tirá-la aos vinte, antes que ela fique doente e eliminando todos os riscos da doença no futuro? O mesmo em relação ao câncer de mama. Antevejo garotas no futuro já sem um dos seios originais e rapazes livres da ejaculação de uma glândula potencialmente doente. Isto sem falar do uso de “deCODEmes” para avaliar um namoro planejado: “não vai dar certo, não quero ter um filho potencialmente diabético. Sinto muito. Aliás, procuro um parceiro que possa gerar filhos louros, com olhos verdes”.
Temo que estejamos construindo um futuro muito complicado para seus habitantes. E que a geração saúde, já festejada na modernidade, possa ser transformada numa geração de mutilados em nome da saúde. Muita saúde e menos órgãos possíveis de adoecimento. Isto sem falar na possibilidade de um transplante cardíaco precoce para quem tem pavor de morrer de enfarte, como atesta seu mapa genético. E que casamentos - melhor dizer acasalamentos - possam ser feitos a partir de anúncios de mapas de genomas publicados nos jornais, ou melhor, nos sites de relacionamentos da internet.
O que é mais assustador é que o enigma colocado pelo capitalismo parece não apresentar saída. Aqui, a esfinge ameaçadora não deixa possibilidades de resolução quando diz: decifro-te e te devoro!

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