domingo, 22 de março de 2015

Olha, mamãe, sem os óculos!

(Edmar Oliveira)

Lembro bem. Primeiros anos da segunda metade do século passado. Éramos um bando de garotos na sombra de uma mangueira na porta da minha casa (Rua Campos Sales, 1898) tentando adivinhar o que tinha acontecido no Brasil na data correspondente ao número da casa em frente, do outro lado da rua. Um número próximo ao da minha casa. Se era o ano da Lei Áurea, da Proclamação da República ou da Batalha Naval do Riachuelo. Eu sabia todas as datas, bom aluno de história que sempre fui. Mas tinha um grande problema para resolver. Não via a placa da casa em frente, só um borrão azul com algo escrito em branco que não tinha qualquer nitidez. Ali descobria porque assistia aula na primeira fila e via filmes perto da tela. Eu era um deficiente visual. Fui levado ao oculista e descobriram que eu tinha miopia. Passei a usar óculos daí em diante. Meus inseparáveis óculos para o resto da vida, disse o doutor.

E nunca tive problemas com meu assessório, de modos que não entendi a revolta do Herbert Vianna com a música “eu não nasci de óculos” para justificar uma cirurgia que corrigiu sua miopia. Não me interessei, gostava dos meus óculos. Às vezes até me descobria tomando banho com eles.

Fiquei incomodado quando passei a ter que tirar os óculos para ler. Perguntei o motivo a um oftalmologista amigo meu, já que eu sempre li com meus óculos de míope. “Depois de uma certa idade” – respondeu o meu irônico amigo – “só quem fica duro é o cristalino”. Entendi que o cristalino tinha uma flexibilidade de adaptar o foco para a leitura que ele estava perdendo, embora eu ainda não precisasse de comprimidos azuis aventados na hipótese irônica do meu amigo. Mas entendi também que a flexibilidade ia diminuindo e a rigidez aumentando quando tive que usar óculos para leitura. Nunca me adaptei aos multifocais, de modo que tinha de carregar óculos para perto e outro para longe.

Contudo a minha visão foi amarelando, precisando de mais graus e o minha atual oftalmologista indicou uma cirurgia de cartara. Tira-se o velho cristalino opacificado que é substituído por uma lente artificial e flexível. A cirurgia é simples, quase ambulatorial e você vai para casa menos de uma hora depois. Segue-se um pós-operatório complicado com uma série de movimentos que você não pode fazer. Mas tirando o tempo de se fazer nos dois olhos em períodos diferentes, é uma operação simples.

Fantástico é você descobrir que não precisa mais de óculos. As lentes levam os graus como se fossem óculos embutidos nos seus olhos. Velho, redescubro a alegria da visão sem precisar de óculos. Como um menino saí por aí vendo o realçar das cores e das formas que já tinha perdido. Tenho até que pedir ao Gervásio um novo desenho para o Piauinauta. Leio livros, vejo filmes, trabalho no computador sem problemas.


O problema são as manias de velho. Vez por outra me pego procurando um óculos que não mais preciso. Ou pior, tento tirar um óculos que não existe quando vou dormir...   



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Crônica dedicada a Durvalino e Chicão, companheiros da aventura de estar no mundo.





O QUE DIZ E CALA O POEMA


o poema em alvoroço
diz com ironia e graça:
quem está no fundo poço

do fundo não passa
o poema fica mudo
ante a ideia que lança
a quem perdeu tudo
ainda resta a esperança

(Climério Ferreira)
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desenho: Arnaldo Albuquerque para capa do Gramma






RIO DE JANEIRO, MARÇO DE 1964/51 anos depois

(Edmar Oliveira)
desenho de 1000TON

Tenho o privilégio de viver o Rio de Janeiro em dois seguimentos extremos. Trabalho numa comunidade carente, onde a bolsa-família é a possibilidade de vida de algumas famílias miseráveis; o seguro-desemprego é bastante usado por trabalhadores desqualificados e efêmeros; os precários apartamentos da “Minha Casa, Minha Vida” o sonho da moradia definitiva de muitas famílias; o crack e a loló circulam na desesperança dos desenganados; a UPP, um policiamento odiento que sempre está contra os moradores da comunidade. 

Por outro lado resido na zona sul convivendo com a elite desta cidade, que apresenta um comportamento odiento contra o governo; tem no PT o bando de canalhas que roubaram o país e que é a desgraça da crise em que vivemos; o impeachment da presidente é pedido em todos os bares entre canecas de chope; a violência tem de ser contida com mais polícia e pena de morte para os excluídos; “só nesse país se aguenta tamanho absurdo”, declaram na esperança de uma marcha que mobilizou um milhão contra os desmandos; falam mal do Brasil por tudo e se comportam no exterior com o rabo entre as pernas num claro complexo de vira-lata.

Me preocupo com os desvalidos nos cortes que o governo faz nos programas sociais e não gosto dos ajustes, sendo por isso um crítico de um governo que acho inoperante e incompetente. Me preocupa nos segundos a arquitetura de um golpe como a elite civil apoiou em 64.

Os primeiros são os mesmo para quem as reformas de base não vieram em 64. Os segundos a representação do udenismo golpista, que apesar de não ser maioria tenta impor suas ideias no grito, a golpe e a galope. Tem um Lacerda em cada bar da zona sul. Outro dia, uns espécimes desta fauna comemoravam a greve dos camioneiros para tirar “essa gente” do poder. Eu, que sou crítico da apropriação dos esquemas de corrupção pelo PT, fico surpreendido com o ódio dirigido a “essa gente” como se eles tivessem a “ousadia” de roubar como as elites sempre fizeram. Mas a companhia d”essa gente” nos esquemas que sempre foram usuais lhes é insuportável. Não defendo nenhum ladrão e acho que todos devem pagar na justiça o crime  cometido e no caso de desvio do dinheiro público defendo que devia ser considerado crime hediondo. Mas arrisco a pensar, que para essa elite, há um preconceito de classe com os ladrões. Eles (essa gente petralhas e sindicalista) foram muito longe. E, impressionante!, quando vem a calmaria, entre chopes se confessa o suborno a um policial como a coisa mais natural do mundo. Acho que foi criado o mesmo pensamento que derrubou Jango.

Hoje a diferença é que não há qualquer ator competente para assumir a insatisfação (porque há e é legítima) com o governo Dilma. Os militares parecem que não querem montar neste cavalo selado, ainda ressabiados com a queda da ditadura de cinquenta anos atrás. Há impaciência com o processo democrático seguir o seu curso. Já vivi governos bem piores que o atual.  

Mas os Lacerdas estão dominando o discurso atual na cidade partida, sem se importar com os desvalidos e mais: acham que quem está em programa social não tem direito a voto, como se recontando os votos (excluindo os assistidos) o Aécio seria declarado presidente deles.

Tomara que seja só um revoar de corvos...
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foto de Marcelo de Franceschini






Paulo Freire e o Obscurantismo Midiático




O campeonato de besteiras, verificado nas faixas e cartazes bem confeccionados na manifestação de domingo, surpreende a cada imagem divulgada. Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, teria material disponível prum ano inteiro de Febeapá. Mas, não há graça capaz de dar conta da vilania dessas organizações empresariais de comunicação. 
Os ataques a Paulo Freire, expressão maior do obscurantismo do dia 15 passado, servem ao menos para que o seu nome e obra alcancem o senso comum dos que, de boa fé, acabaram instrumentalizados ontem.
A crítica à educação bancária que propunha era contra a condição de receptáculo à que se reduzia o aluno sentado num banco recebendo acriticamente toda a sorte de conteúdo quase sempre desligado de sua própria realidade de vida. O que interessa se o vovô viu a uva, se não temos avô nem nunca comemos uva?
Paulo Freire, sem que esses incautos soubessem, retorna com uma oportunidade capaz de lhes expor a ignorância, como o registro que fazia separando a tolerância com a diferença do combate firme ao antagônico que exclui, aparta e elimina, autoritariamente.
Temos de ter tolerância com os pobres mentais instrumentalizados, mas não dá pra ser mais leniente com os que conceberam e orientaram a produção das faixas e cartazes, cuja intenção é fabricar e acirrar crises, semeando a insegurança, para lucros golpistas.
Uma das fontes desses cartazes está justo nessas organizações empresariais de comunicação, capazes de manchetes como esta:
“Democracia tem novo 15 de março”


DESENHO E TEXTO DE ANTÔNIO MÁXIMO sobre o absurdo da faixa abaixo:


Drummond e sua nova estátua


(Geraldo Borges)

A escultura foi inventada pelos gregos e romanos, antes da era cristã.  Foi enterrada  com as trevas da idade media. E depois ressurgiu  durante o renascimento com a proteção dos mecenas da época. Atualmente a escultura é uma arte démodé. Já não há espaço para a sua presença, a não ser as imagens trabalhadas pelos santeiros e que  ornamentam o interior das igrejas.

Hoje as grandes esculturas são testemunhas de um passado glorioso da cultura europeia, e um patrimônio histórico da humanidade.

No Brasil o seu período áureo ocorreu em Minas Gerais, com o aparecimento do Aleijadinho. O mundo inteiro conhece e reconhece as figuras  dos profetas talhadas em pedra sabão, em estilo barroca. Não se elaboram mais esculturas como antigamente.

Mesmo assim, aqui e acolá, aparece uma escultura ocupando o espaço publico.

Mas vamos ao assunto  dessa crônica. Um professor teve a ideia de inaugurar uma estátua em homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade. Tudo bem. Louvação. Vale a pena a homenagem ao poeta. Mas o professor, com certeza, sabe que o poeta não liga para esse tipo de elogio. Prefere ser lido, recitado, comentado. Talvez  o professor não tenha conhecimento que no século passado o poeta de Itabira, de um retrato na parede, recusou um convite carinhoso para vir à Teresina. Convite esse feito pela  Academia Piauiense de Letras na pessoa de seu presidente Arimathea Tito Filho. Talvez o poeta não gostasse de academia Já o velhinho, Austregésilo de Athayde, com quase cem anos, sem pestanejar, aceitou o convite; era presidente da ABL.

Se o poeta estivesse vivo e a municipalidade lhe agraciasse  com uma estátua, sentada, num banco solitário, pegando sol e chuva e caca de passarinho, com certeza, ele recusaria, mesmo que fosse estadual ou federal. Um poeta que cantou Charles  Chaplin, que foi gauche na vida jamais fiaria à vontade sob o peso de uma estátua. Uma charge, uma caricatura, lhe cairia melhor.

Pensei muito, antes de escrevinhar essa crônica. Seria melhor se estivesse ficado quieto no meu canto, sem me preocupar em dividir opiniões, entre os graves e os frívolos. Talvez esteja assanhando um formigueiro.

Acho que o  distinto poeta  não merece ficar assim em forma de estatua, de costa para o rio Poti. Talvez seja um castigo por não ter aceitado o convite para vir à Teresina.


Não gosto de vaticinar, é coisa de poeta. Mas quem vai vigiar o poeta, noite e dia, faça chuva ou faça sol, para que ele não se torne vitima dos vândalos, a guarda municipal? As pessoas não vau enxergar o poeta. Pois mal têm tempo de olhar para o semáforo. E talvez algum transeunte  que nunca leu poesia o confunda com algum político da província. Caso não desapareça vai virar ruina. Como muitas outras  esculturas estão virando no espaço público da capital do Piauí, um espécie de terra de ninguém.

DOMINGOS MOURÃO


Lembranças do passado


Anistiada, advogada presa na ditadura no Piauí desabafa: "minha alma já doeu muito"

Ela foi perseguida durante a Ditadura Militar de 1964 e foi a única mulher presa no Piauí sob a acusação de comunismo e subversão. Sentiu na pele o peso das humilhações, passou fome, perdeu empregos e amigos e até o direito de se reunir com a família. Iracema dos Santos Rocha da Silva tem hoje 87 anos e é um grande exemplo de Mulher Piauiense, com muita história para contar.

"Eu sempre acreditei que a mulher tem que ter os mesmos direitos dos homens. Fui a favor da Revolução Industrial e desde então fui perseguida e censurada. A primeira vez que passei por isso foi durante um discurso no rádio, ao lado de Petrônio Portela. Cortaram a minha palavra. Dias depois, fui presa e vivi os piores pesadelos", relata Iracema.

Advogada, professora, filósofa e jornalista. Não faltam profissões para uma mulher a frente de seu tempo, que incitava multidões e mexia com a opinião pública em pleno golpe militar. Os traumas da época estão marcados no jeito de falar de Iracema, nas lágrimas que insistem em ainda cair, mesmo após tanto tempo e nas lembranças dolorosas que a rondam.

O massacre da Ditadura

Com a ajuda da filha mais velha, Eliane Maranhão da Silva Thé, a advogada relata com a exatidão de quem viveu tudo isso ainda ontem, o momento de sua prisão e os dias trancada no 25º Batalhão de Caçadores:

"Em 1964, eu morava ali na avenida Campos Sales. Um dia, um jeep com três militares armados se aproximou. Quando eles desceram do carro, entraram na minha casa e disseram que me levariam. Pedi para Eliane avisar ao meu marido. Quando me colocaram no carro, os outros vasculharam a minha casa"- Iracema, presa política da Ditadura Militar

"Os militares vasculharam por todos os cantos. Olharam debaixo das cadeiras, nas paredes, nos quartos e subiram para vistoriar a caixa d'água. Até no galinheiro eles olharam. Levaram todos os livros e jornais que encontraram. Diziam que aquilo era coisa de comunista" - Eliane, filha mais velha de Iracema

"Quando cheguei ao 25º BC, me colocaram sentada de costas para a porta, em um tamborete, no escuro. Desse modo, eu não conseguia ver quem estava se aproximando para o interrogatório. Eles queriam que eu confirmasse que era comunista, me humilharam. Diziam que eu não merecia viver, que tinha que ter cuidado dos meus filhos e esquecido a política. Eu respondia apenas que cuidava da minha família, sim, mas também da democracia e do direito da mulher nas horas vagas" - Iracema

"A mamãe ficou incomunicável. Nem nós, os filhos, nem o marido, podíamos visitá-la. Foi quase um mês nessa agonia. Deixavam ela sem comer por dias. Foi aí que conseguimos um soldado militar que gostava dela e aceitou levar comida escondida na farda. Era coisinha pouca, mas pelo menos ela poderia comer" - Eliane

"Às vezes, eles me deixavam dias sem comer e depois chegava uma pessoa e dizia que iria me fazer uma comida especial, muito gostosa. Nesse dia, eu não comia. Eu tinha medo de ser envenenada, de me matarem e sumirem com meu corpo" - Iracema

Desespero

Do lado de fora do quartel, mulheres de vários municípios piauienses acampavam na porta do batalhão. À frente da luta a favor dos direitos da mulher, Iracema foi presidente da Liga Feminina Trabalhista, da Liga Operária, da Liga das Camponesas e da Frente Mobilização Popular. Era respeitada e admirada em todo o Estado.

"E acreditamos que foi isso que impediu a morte da mamãe. Os militares teriam que dar uma satisfação para a sociedade se ela desaparecesse. A presença de mais de 500 mulheres acampadas na frente do batalhão dificultava que ela fosse transportada para outro local", destacou Eliane, que na época tinha 16 anos.

Mobilização feminina ajudou Iracema a ser libertada do 25º BC

Quando Iracema foi finalmente liberada do 25º BC, teve que obedecer a duras normas - não podia se reunir com mais de três pessoas, mesmo sendo da família, era vigiada dia e noite, os amigos eram interrogados com frequência e os filhos eram perseguidos até no caminho para a escola.

"Eu perdi muitos amigos, porque as pessoas tinham medo de serem presas por me visitar. Eu não podia receber um telefonema e se eu me sentasse na sala com minha família, os militares diziam que era uma reunião, que era conspiração", lembrou a militante.

Iracema ainda foi presa duas vezes depois e permaneceu sob as algemas da ditadura por três a quatro dias em cada uma delas. Por vezes, chegou a perder a noção de tempo, já que ficava no sempre no escuro.

"Eu resumiria tudo isso em uma palavra: desespero. Eu não sabia como me livrar daquilo. Eu não merecia passar por tudo. Eu lutava pela mulher porque não tínhamos direito à palavra, ao sentimento. Éramos escravas de senzala" - Iracema

Família perseguida

Casada com José Maranhão Ferreira da Silva, que este mês completa 99 anos, Iracema teve quatro filhos. Em 1964, três deles já haviam nascido e ver a família sofrendo os reflexos dessa perseguição aumentava ainda mais o desespero da professora.

“A gente estudava no Liceu Piauiense e no caminho para lá, éramos seguidos por soldados do 25º BC. As pessoas na rua gritavam: ‘Lá se vão os filhos da comunista’. Os professores não repreendiam por medo. Só dois deles nos defenderam, mas fomos realmente isolados da vida social. Até quando saíamos para brincar, éramos seguidos pelos militares”, conta Eliane.

Vida de Iracema – um livro

Apesar de todos os acontecimentos, Iracema não desistiu da luta. Ela se candidatou a cargos públicos em praticamente todas as eleições, mas, pelo sistema da época, conhecido como Mapismo (no qual as cédulas de votação eram facilmente alteradas), nunca havia conseguido se eleger.

“Em 1970 consegui ser eleita deputada federal, mas me cassaram. Mesmo assim, fui recebida por Ulysses Guimarães [político que abrigou os opositores do Regime Militar e foi presidente do Congresso Nacional] em Brasília, com todas as honras de uma deputada”, conta.

Iracema tinha o sonho de se formar em Direito, mas pelas pressões sociais, só lhe foi permitido se formar em normalista (professora). Depois de casada, pediu ao marido para estudar Direito, mas acabou entrando na faculdade de Filosofia, adiando novamente o sonho.

“Só consegui me formar em Direito em 1953, quando minhas filhas já estavam grandes, prestando vestibular. Em 1984, passei em primeiro lugar no concurso para juiz. Depois de muita luta, deixaram eu assumir, mas me mandaram para Corrente. Aí decidi não ir, porque tinha um filho que ainda era criança e eu queria que ele estudasse na capital. Além disso, eu não nasci para ser juíza, porque eu teria que apenas decidir. Eu queria mesmo era brigar, era defender direitos”, disse.

Na casa da avenida Campos Sales, que amargou tantos momentos de tristeza na Ditadura, hoje funciona o escritório de Iracema, que ainda trabalha, mesmo aos 87 anos. “Minha filha [Eliane] tomou de conta da maioria dos clientes, mas eu ainda atendo alguns, que fazem questão de que eu conduza os processos. Não penso em parar de trabalhar, porque eu lutei por isso. Lutei para ser advogada. Trabalho por amor”, completa.

Aos 87 anos, Iracema ainda trabalha diariamente em seu escritório de advocacia

A advogada está finalizando um livro no qual relatará toda sua vida, desde criança até os dias atuais. A obra ainda não tem título, mas deve ser publicada ainda este ano.

Anistia?

Em 4 de março de 2015 ela recebeu um documento do Ministério da Justiça dando-lhe anistia pela época da Ditadura. A advogada vai receber uma indenização de R$ 150 mil pelos abusos vividos. 


“Eu acho justo, mas essa justeza me dói. Eu não deveria ter sofrido tudo isso. Eu me sinto confortável pelos meus filhos e filhas, mas minha alma já doeu muito. E eu não acho que anistia seja uma palavra correta para isso. Anistia é perdão e eu não preciso ser perdoada. Eu entrei para a política pensando e agindo sozinha e fui massacrada por isso. Mas se eu voltasse a ser aquela menininha, faria tudo de novo, mesmo sabendo que sofreria”, conclui Iracema.




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garimpo de Kenard Kruel

Noélia

IN(L)IBIDO

A mancha branca marcou
o coração com passo lento.
E nada mais se ergueu
por algum tempo.
Nem mesmo a língua
acelerou seu batimento.
(Noélia Ribeiro)
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desenho: Gabriel Archanjo


O MESMO POR OUTRO ÂNGULO

Título:O MESMO POR OUTRO ÂNGULO
               Autor: Chimamanda Ngozi Adichie    
               Tradução:Julia Romeu
               Editora:Companhia das Letras
               513 págs.

               ::Luíz Horácio
               Florianópolis


As famigeradas oficinas literárias sobrevivem às custas dos incautos. É lá que eles costumam, incansavelmente, procurar a receita para escrever e fazer sucesso.  Tem receita para todo gosto.
Também tem os que misturam ingredientes e colocam o resultado à venda.
Americanah, de Chimamanda Ngozi Adichie é um exemplo dessas misturas, porém bem misturados. Se bem que em alguns pontos perceba-se o excesso de açúcar.
Americanah narra uma história de amor? Sim
A história de amor carrega todos os clichês das histórias de amor? Sim
Americanah conta uma história onde a internet tem papel significativo? Sim.Ifemelu é blogueira, faz abordagens gerais, mas  escreve principalmente sobre o , muitas vezes velado, racismo americano.
Deve ser lido como um romance de formação? Deve. Traz Ifemelu percebendo o que é a vida em sociedade, sobretudo em sociedade que não é a sua.
Como diário de viagem? Também. Estados Unidos, Nigéria, Inglaterra.
Forte presença do feminismo? Sim. Ainda menina Ifemelu  percebia algo de anormal ao observar os relacionamentos de homens e mulheres. Presenciara sua tia sendo tratada como mero objeto sexual ou doméstico.O leitor encontrará mais uma vez o nefasto politicamente correto? NãoTrata-se de um grande livro, uma grande narrativa? Em sua extensão, sim.Entre tanto déjà vu, nenhuma novidade para o leitor de James Baldwin, Chimamanda atira para todos os lados, mas  foge à regra e usa a irreverência para abordar o racismo, evita os clichês ao tratar da imigração, mais precisamente quando se ocupa do status do imigrado. Noves fora, menos extenso, Americanah manteria a intensidade, assim como veio a público diluiu a crítica numa calda exageradamente adocicada da previsível história de amor. Uma história de amor divertida e ao mesmo tempo dura em sua crítica social.
Americanah é o documento da via crúcis de Ifemelu. Ela deixa seu país natal, Nigéria, para realizar seus estudos na Filadélfia, Estados Unidos. A autora, que de boba não tem nada, sabe que sair, simplesmente sair, não rende uma história. Caso renda não atrairá  público. Isso mesmo, arguto leitor, Ifemelu deixa para trás o grande amor de sua vida, Obinze.
A autora dá início ao drama de Ifemelu, nigeriana que vive nos EUA, decide retonar ao seu país.  Enquanto ela reflete acerca de suas decisões a cabelereira , refaz seu penteado afro.Uma negra mexendo na cabeça de outra negra, como a despertá-la. Ifemelu pensa...pensa sobretudo naquilo que a espera.
E tem prosseguimento  o calvário de Ifemelu. Assim que desembarcou nos Estados Unidos, despertou para o mundo;   percebeu estar sozinha em terra estranha, estranhíssima. A seguir se dá conta que a cor de sua pele  carrega um sentido e uma importância jamais conferidos por ela. Só e diferente. Em termos, nem tão só e nem tão diferente. Ou melhor, não estará só, tão só, devido a essa diferença, a cor da pele. Ao leitor fica bem claro que até o momento do desembarque a protagonista não fazia a menor idéia de sua negritude, tampouco imaginava que naquele lugar existisse alguém de cor branca. Talvez a autora tenha usado isso apenas para causar impacto ao leitor. Ao leitor desatento.
Mas  também tem seu lado bom.
Americanah tem seu grande momento na   força das personagens, mas a ingenuidade de Ifemelu leva o leitor a imaginar uma pessoa alienadíssima ou arrancada de uma tribo selvagem. Fica a impressão de jamais ter chegado em sua terra de origem qualquer linha a informar da existência de preconceitos nos Estados Unidos e qualquer outro país. Quer um exemplo? Aqui está: dia desses um jornalista usou quipá durante dez horas, ele andou pelas ruas de Paris, extremamente hostilizado. Eu disse judeu. Imagine uma negra nos Estados Unidos. Não precisa, você sabe. Claro que sabe.
É exatemente nesse país, notabilizado também por seu racismo e discriminações que durante década e meia Ifemelu tentará viver como se americana fosse. Americana livre das segregações.
Entre muitos fracassos e alguns sucessos, Ifemelu se estabelece, mas acaba por refazer seus passos e aterrisa em seu país natal. Lembre, atento leitor, que existe a história de amor.Obinze ficou na Nigéria.
A decisão de Ifemelu é o ponto de partida, num primeiro momento o leitor poderá condená-la por isso, entender como intempestiva, logo perceberá se tratar de algo estudado, pensado, decisão que levou tempo até amadurecer. É exatamente  sobre esse pilar, o amadurecer da idéia do retorno, que se estrutura o romance de Chimamanda Ngozi Adichie.
A narrativa transcorre ora no presente ora no passado, o leitor se vê entre incessantes idas e vindas.Não fosse a “manjada”história de amor, Americanah não receberia tantos elogios mundo à fora. A maioria dos leitores de Chimamanda, não tenho dúvida, não suportaria uma história com essa característica, abordagem racial, sem esse lenitivo edulcorado.
Americanah, apesar das inúmeras possibilidades de fuga, é um romance introspectivo, complexo se levarmos em conta a questão central, ou quase central, a raça.

Os obstáculos que se apresentam, e os que são colocados, a uma pessoa estrangeira, além da cor da pele no caso de Ifemelu; falta de documentos, o périplo interminável em busca de um emprego, preconceitos de toda ordem, casamentos de ocasião, e sobretudo a solidão. Sentimento aguçado pela perda da identidade. E identidade não é algo que se obtenha de uma hora para outro.Principalmente por que a esses solitários caberá o subemprego. Mas Ifemelu ainda ama Obinze e pretende esquecê-lo. Submete-se a relacionamentos  que podem ser descritos como tentativa de autopunição. Castigo por um dia ter dado pouco valor a Obinze.Mas a conta parece ter chegado.


Obinze, por sua vez, segue a cartilha, faz de tudo para ter sucesso profissional, o que significa ter dinheiro, estar casado e não extravasar seus sentimentos.
Ifemelu é um reservatório de contradições, vive e supera situações assustadoras nos Estados Unidos, toma decisões que espantam  para longe, muito longe, qualquer possibilidade de ser feliz.


 Alguém capaz de deixar seu país na tentativa de vencer em terra estranha, ao aparentemente conseguir, decide voltar, cansada de viver apenas com a lembrança de um grande amor, Obinze é a motivação necessária. Vencedora ou derrotada? Qual a necessidade de colocar nesses termos? Nenhuma. Ifemelu simplesmente acreditou que sua felicidade tem nome certo e lugar conhecido.
O drama de Ifemelu, como ser negra num mundo de brancos? E o leitor se detém na história da protagonista.Mas a história é comum a qualquer negro que tenta viver com dignidade em sociedades racistas. Ifemelu ruma aos Estados Unidos, vai estudar Comunicação.No futuro lhe renderá um blog. O destino de Obinze é outro, Inglaterra, e sua experiência será bem pior que a de Ifemelu. Os problemas são iguais, o imigrante só tem a perder, da identidade à exclusão.Imigrante negro, bien sûr! E Obinze conhece a humilhação. Até que um dia retorna ao seu país. Ifelmelu e Obinze se reencontrarão, é claro.
Americanah  tem seus pontos altos, particularmente me agrada essas idas e vindas no tempo, mas a extensão, a lentidão, a repetição tiram o brilho. De qualquer maneira, com uma generosa dose de boa vontade, arrisco dizer que os méritos acabam por prevalecer. Mas nada de mais...longe...bem longe disso. Nada que não se encontre em Coetezee e que este não tenha tirado de Faulkner.


TRECHO
Ela fingiu que estava doente e faltou ao trabalho por três dias.Finalmente foi trabalhar com um afro muito curto, penteado demais e com óleo de mais. “Você está diferente”, disseram seus colegas, todos com certa hesitação.
“Significa alguma coisa?Tipo, alguma coisa política?”, perguntou Amy, que tinha um cartaz de Che Guevara na parede de seu cubículo.
“Não”, respondeu Ifemelu.
Na cafeteria, a srta. Margaret, a afro-americana peituda que servia as refeições - e que, além de dois seguranças, era a única outra negra na empresa - , perguntou: “Por que você  cortou o cabelo, meu bem? É lésbica?”.
“Não, srta. Margaret, pelo menos não por enquanto.”
Alguns anos depois, no dia em que Ifemelu pediu demissão, ela foi à cafeteria para seu último almoço. “Está indo embora?”, perguntou a srta. Margaret, chateada. “Que droga, meu bem. Eles precisam tratar o povo melhor aqui. Acha que seu cabelo foi parte do problema?”


AUTORA
Chimamanda Ngozi Adichie    nasceu em Enugu, na Nigéria, em 1977.
Autora dos romances, Meio sol amarelo (2008)  e Hibisco roxo (2011) publicados no Brasil pela Cia. das Letras.
Sua obra foi traduzida para mais de trinta línguas. Depois de ter recebido uma bolsa da Mac Arthur Foundation, Chimamanda vive entre Nigéria e Estados Unidos.






Entre duas palavras



Um vídeo de Carlinhos Nascimento
Entre Duas Palavras – composição de André Geraissati.
André Geraissati, violão // Eduardo Queiroz, teclados
Emilio Mendonça, teclados // Renato Martins, percussão 






domingo, 8 de março de 2015

Declaração de amor


(Edmar Oliveira)

A primeira vez que vim ao Rio, Estácio de Sá já tinha morrido há muito tempo. Também não vi a pedra da primeira edificação dos brancos na confluência do Rio Carioca com o mar, aos pés do morro da viúva. Uma grande pedra remanescente da construção, que o padre da igreja a Santíssima Trindade jura que estava nos fundos da igreja, justo na confluência das Ruas Princesa Januária com Senador Euzébio no Flamengo, sumiu tal quais as vigas da Perimetral. Não estava no cais quando o reino de Portugal foi transferido para a Praça XV, depois de ser posto a correr por Napoleão. O Pedro I já tinha gritado a independência e comido a Marquesa de Santos, sua irmã e outras moçoilas que apareciam na corte. Tive boa impressão do Imperador Pedro II, mas a república veio de pijama, montada no pangaré de Deodoro.  Nem cheguei a ver a derrubada do Morro do Castelo, apesar de ter acompanhado as reportagens misteriosas que o Lima Barreto fez para um jornal carioca. Também não assisti a abertura da Presidente Vargas com o prefeito derrubando os barracos para livrar os pobres da febre amarela. Osvaldo Cruz matou os mosquitos e Pereira Passos espantou os pobres para que trepassem nos morros ou desbravassem o sertão carioca. E o Lacerda já tinha furado os túneis que facilitaram a mobilidade urbana da zona sul. Não ouvi o tiro que Getúlio deu no próprio peito numa noite de agosto no Palácio do Catete. Nem o Palácio vazio, quando Juscelino inaugurou um delírio no planalto central. Os bondes já tinham saído dos trilhos, mas os de Santa Teresa ainda enunciavam esse meio de transporte. A Esplanada do Castelo já tinha tirado a Igreja de Santa Luzia da beira-mar e o Aterro do Flamengo empurrado o mar, que vinha até o Castelinho, para cobrir uma grande parte da baia de Guanabara. O Andreazza tinha acabado de inaugurar uma ponte de treze quilômetros que juntava cariocas e araribóias, enterrando uns operários nas pilastras de concreto. O Rio já tinha mudado.

Mas eu mudei muito mais nesse tempo que vivo aqui. Cheguei com 25 anos saindo do nordeste escaldante para as promessas do sul maravilha. Tenho mais tempo na cidade adotada do que na terra em que nasci. Quando o Rio fez quatrocentos anos comemorei de longe, sabendo que vinha. Nos quatrocentos e cinquenta comemoro um tempo nas batalhas que conquistei. O Rio não é só o Cristo, que recebe de braços abertos. Ele abraça afetuoso e te chama pra tomar um chope, em pé, num bunda de fora qualquer de suas esquinas. Ele não reclama se tu estás de chinelo de dedo, camiseta e bermudão. Trata de assuntos sérios mesmo se você estiver vestido à vontade. Suas meninas são muito simples e informais com uma beleza dourada que só o Rio lhes dá. Nunca as vejo com a deselegância discreta das paulistas ou das de minha terra. Acho que ficam mais belas à beira da praia, nos botequins, não importando se sol já se foi.


É necessário declarar amor ao Rio. Uma cidade que inventei pra mim, como já dizia o poeta triste ao chegar por essas bandas. E mesmo maltratada por tantos séculos, a cidade mantém as suas curvas naturais, tais quais Estácio de Sá avistou quando a inaugurou em março num dia de chuva. Fosse um dia de sol o índio tinha despido o português, como queria Oswald de Andrade. Mas quando o sol chegou destacou as curvas de sua geografia erótica que encanta os estrangeiros desde Estácio de Sá.

desenhos do Rio: Fábio Araujo - Graphic Designer

Máximo

desenho: Antônio Máximo

LENDA



p/B.
Tua lenda me persegue feito uma cidade aflita(ou
um forasteiro num beco escuro). Tua lenda é um
um céu de tulipas, uma restinga do Atlântico.Quando
a noite lamber teu eclipse e te despires ante a agonia
do mar, serei o marujo a romper tuas ondas. Ainda
que os desejos te acordem vulcões. Os caçadores
de óvnis e os Bigs de Wall Street não serão teus
donos. Nem os Mandarins da China, nem os Sultões
de Dubai. Nem. Nem.

SALGADO MARANHÃO
(Do livro Ópera de Nãos)

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desenho: Gabriel Archanjo

Ainda 450:

Antônio Máximo

Cidades também são armas. E a minha não é diferente, mas não cancela o amor que lhe tenho.(AM)

1000TON

Para o Rio de Janeiro 450 anos



Carrego um Rio comigo

De beleza e de bondade
Rio de prosperidade
Rio que é meu abrigo
Rio novo e antigo
Tem o Cristo Redentor
Carnaval e o calor
A capital da cultura
Berço da literatura
Do cinema e do humor.

Rio do Arpoador
Da mulata e da ginga
De refrescar a moringa
Da Portela e Ouvidor
Este Rio meu amor
Induz a felicidade
Botafogo e Piedade
Um Rio do tempo inteiro
É o Rio de janeiro
Do mundo a melhor cidade

(Chico Salles)
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foto: Vânia de Paula em Sou do Rio 



Previsão do tempo


o morto esboçado no chão com sua moto
não é lembrado no Mercado Central
onde cresceu e há anos não aparece
o recém nascido Evangelina Rosa grita
[primavera rouca
coro que anoitece os olhos do pai
pétalas de aço enferrujado rasgam o asfalto
Frei Serafim meio do dia da
quentura dos infernos
ônibus tiram fino das garotas CPI todas iguais
a cidade respira pulmões encardidos
e o som vibrante de linhas com cerol nos
[postes do Mafuá

trilha o cotidiano de almas estendidas em varais


(Rodrigo M Leite do livro Cidade Frita)

MEU SILÊNCIO NO ESTRANGEIRO

Foto: Pedro Agostinho Cruz em
http://pedrojoseagostinhodacruz.blogspot.com.br/2013/08/solidao-ao-metro.html

O meu silêncio
Grita muitas lembranças
Que ficaram retidas no fundo do não dito

Planos abortados e esperanças perdidas
Alguns semblantes desconhecidos
Corredores sombrios, quartos de hotel, pátios vazios
Tardes tristes, ruas molhadas

O meu silêncio
Berrou no estrangeiro
Sofrendo neve, sentindo banzo, tremendo de frio
Desconhecendo placas, não decifrando falas
Sem possibilidade de abraço
Ouvindo João Gilberto na solidão do metrô

(Climério Ferreira)




o futuro a Deus pertence


o sumiço do carneiro

(Geraldo Borges)

Eu e meu  colega moramos em um pequeno apartamento. Somos estudantes. Vivemos de mesadas.
 Hoje ele ganhou um carneiro de seu pai para ajudar nas despesas da alimentação. Não temos lugar para guardar o animal. Pediu – me para acomodá-lo  dentro de um cercado vizinho  à casa de minha tia.
 Falei com minha tia, ela disse:
- Tudo bem.
Ele trouxe o carneiro puxado por uma corda. Abriu a porteira do terreno, amarrou o carneiro em uma estaca da e cerca, com a corda afrouxada para que ele pudesse  ter mais liberdade de movimento.
No outro dia seria  levado  ao matadouro.

Meu avô chegou de noite para  fazer uma visita ao médico. Parece que estava caduco. E de manhã  acordou muito cedo. As ruas vazias, os passarinhos cantando. Ele pensava que estava na fazenda.
Chegou lá fora, e avistou o carneiro dentro do cercado. Não estava acostumado a ver um carneiro sozinho dentro de um cercado. Sempre via carneiro em bando, o rebanho. Estranhou. Olhou para um lado e para outro. Não viu ninguém.
Abriu  a porteira do  cercado e soltou o carneiro. Que ele fosse procurar o seu rebanho.
Quando fomos pegar o carneiro para  o sacrifício  constatamos o fato. E saímos pelas ruas atrás de seu paradeiro. Se ao menos ele berrasse Mas o bom cabrito não berra Desapareceu. O que nos resta dele é apenas esta história..